Em entrevista veiculada no dia 19 de novembro, no jornal Folha de São Paulo, o presidente eleito Jair Bolsonaro cometeu um erro crasso ao afirmar que “quem ferrou o Brasil foram os economistas”. Com esta declaração, fez uma simplificação inadequada das complexas razões que contribuíram para o declínio da economia brasileira ignorando, por exemplo, a atuação dos grupos de poder econômico e político que decidem os destinos das políticas micro e macroeconômicas adotadas e lançando sobre os ombros da classe dos economistas o ônus dos desacertos praticados.
Os economistas brasileiros deram grandes contribuições às estratégias de desenvolvimento do país e, com elas, permitiram que a economia brasileira lograsse um longo ciclo de crescimento, sustentado sobre os pilares estruturais por eles recomendados e que serviram de condutores para o processo de industrialização e modernização econômica e institucional do Brasil. Não podemos excluir as responsabilidades dos dirigentes econômicos e políticos da época ao confirmarem, na prática, tais proposições dando-lhes materialidade. É o bônus de quem detém o poder.
Em anos mais recentes, novas gerações de economistas continuaram servindo ao país. A despeito de influenciarem a adoção de políticas que não produziram os resultados desejados de promover a internacionalização da economia brasileira pela via produtiva e não pela via financeira, de elevar a competitividade da indústria nacional como base para o crescimento econômico e a equidade social, tais proposições foram aprovadas e implementadas por quem detinha o poder de executá-las, sendo sempre estes os que devem responder pelos insucessos que “ferraram o Brasil”.
Sem subestimar às demais profissões, os economistas são os profissionais dotados de um tipo de conhecimento sobre as variáveis micro e macroeconômicas que lhes credenciam, no plano da coisa pública, a propor a adoção de técnicas econômicas e de políticas que promovam a maximização da geração de riqueza excedente e a sua justa e ética distribuição, objetivando a eliminação da iniquidade social, como forma de legitimar o desenvolvimento.
No plano privado, através do domínio de técnicas econômico-financeiras, contribuindo na formulação de estratégias para a melhoria da produtividade e da competitividade das empresas, visando à rentabilidade viabilizadora dos investimentos e da expansão dos negócios, influenciando no plano microeconômico a expansão da produção, do emprego e da renda, sempre com foco no desenvolvimento socioeconômico sustentável.
Entende-se, facilmente, que atribuir a esta classe profissional polivalente o fracasso de toda uma engrenagem regida por vários sistemas é, no mínimo, uma incoerência.
Reinaldo Sampaio Presidente do Conselho Regional de Economia 5ª Região Bahia (Corecon/BA)