José Sergio Gabrielli é Economista, Mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com doutorado pela Boston University e pós-doutorado pela London School of Economics and Political Science. Foi Diretor Financeiro e de Relacionamento com Investidores da Petrobras entre 2003 e 2005, quando foi eleito membro do Conselho de Administração e presidente da Companhia, tendo sido o presidente mais longevo da empresa (2005-2012). Em 2005, recebeu o prêmio de melhor executivo de finanças da América Latina pelo International Stevie Business Awards e, em 2009, foi agraciado com o prêmio Person of the Year, concedido pela Brazilian-American Chamber of Commerce. Em 2011, foi eleito o Executivo de Petróleo do Ano pela Energy Intelligence e no mesmo ano, premiado como o executivo de maior destaque nas relações comerciais entre Brasil e Japão, pela Câmara de Comércio Brasil-Japão. Em março de 2012, assumiu a Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia (Seplan).
Corecon-BA em Notícia – O que significou deixar a Petrobras, uma das maiores empresas do mundo, e se deparar com a estrutura do Estado da Bahia?
José Sérgio Gabrielli – Em primeiro lugar, tenho 42 anos de formação como Economista. Acredito que a minha formação acadêmica e profissional possibilitou que eu formatasse um pensamento consolidado, sistemático e tecnicamente orientado. Além disso, a experiência como gestor à frente da Petrobras me deu experiência concreta na gestão de grandes projetos e de grande complexidade. Para o Governo do Estado, trago a filosofia de que três coisas são importantes: primeiro trabalhar com projetos que tenham começo, meio e fim; com tarefas, responsabilidades e capacidade de acompanhar o que está acontecendo. Segundo, fazer com que as atividades que são permanentes, continuadas, sejam feitas da maneira mais eficiente possível. E a terceira é entender que a Secretaria do Planejamento é uma secretaria sistêmica e, portanto, tem que fazer um papel de articulação com as diversas secretarias setoriais.
Corecon-BA – Ao longo do seu primeiro ano como Secretário da SEPLAN, o senhor disse em entrevistas que, apesar dos avanços e conquistas do atual governo, a eficiência da máquina pública pode ser melhorada. Que aspectos tem comprometido esta eficiência?
Gabrielli – Um aspecto importante é a melhoraria da qualidade do gasto público. Não somente porque o orçamento é pequeno. A melhoria do gasto público implica em otimizar o recurso, seja para investir em novas ações ou reduzir os gastos com ações tradicionais, mas sempre com a missão de servir bem à população. Nesse sentido, o papel da SEPLAN é o de aprimorar o sistema de monitoramento, acompanhamento e avaliação das políticas públicas e dos 47 programas de governo, bem como auxiliar os municípios a elaborar os seus Planos Plurianuais.
Corecon-BA – Que mudanças precisam acontecer para otimizar os resultados econômicos e o desenvolvimento do Estado da Bahia nos próximos anos?
Gabrielli – Essas mudanças já estão acontecendo. O Estado da Bahia está vivendo um boom de investimentos. Se lembrarmos dos cinco primeiros anos do Polo Petroquímico, o investimento foi em torno de US$ 7 bilhões. Nós temos, nos próximos cinco anos, uma previsão de investimentos de R$ 80 bilhões, o que dá US$ 40 bilhões a US$ 41 bilhões. Portanto, é de cinco a seis vezes mais do que o Polo Petroquímico. Esse investimento está em andamento agora. Desse investimento, 50% estão em energia e em mineração, investimentos fora da região metropolitana. Energia nos parques eólicos na região do sudoeste da Bahia e no semiárido até Sobradinho. E a mineração, também concentrada no sudoeste da Bahia. Esses dois segmentos levam quase 50% desse pacote de investimentos. Os outros 50% ficam em uma parte localizada tradicionalmente na região metropolitana, no Recôncavo e no Baixo Sul, mas tem um enorme investimento também já no Extremo Sul da Bahia, a Bahia Celulose e toda a parte de celulose que vai para o extremo sul da Bahia. Então, nós estamos vivendo não somente um enorme contingente de investimentos, como também, em termos setoriais, uma descentralização espacial em relação à região metropolitana, o que vai transformar a dinâmica econômica do estado. Um detalhe importante: esse montante contabiliza apenas os investimentos protocolados junto ao Governo do Estado, o que significa que o volume de recursos é a inda maior, a exemplo de que não estamos considerando os investimentos da Petrobras na Bahia.
Corecon-BA – Neste ano, teremos a Copa das Confederações e em 2014 a Copa do Mundo. Para estes dois eventos, teremos transporte de qualidade no Estado, em especial na capital baiana? O que a SEPLAN tem feito para garantir isso, já que este aspecto se apresenta como um dos maiores desafios da administração pública?
Gabrielli – Os eventos esportivos de grande porte deixam legados, principalmente, na atração de novos visitantes para a Bahia, sobretudo, porque a rede do boca a boca é a melhor propaganda. Uma das janelas de oportunidades se refere à mobilidade urbana. Uma das preocupações do governo estadual na Região Metropolitana de Salvador (RMS) sempre foi aproveitar a oportunidade da Copa do Mundo de 2014 para escolher um sistema que dê conforto à população e privilegie o transporte coletivo ao invés do transporte individual, desafogando o trânsito e proporcionando maior qualidade de vida. Constituir um sistema de transporte de caráter metropolitano implica, portanto, em um projeto com integração física, tarifária e operacional, algo que não temos hoje. Como o processo de urbanização observado nas metrópoles é constante, buscamos soluções que atendam os grandes fluxos de transporte, com maior horizonte de vida e, por isso, vamos licitar o metrô.
Outro projeto que merece destaque é o “Cidade Bicicleta”. Pretendemos dotar nossas cidades de sistemas cicloviários completos que permitam o pleno circuito do trabalhador, da população nas suas atividades e do turista. Além de atender à população, é um projeto que equipará Salvador para o evento da Copa 2014 e transformará a cara da nossa capital. São previstos217 kmde ciclovias em Salvador e Lauro de Freitas, sendo80 kmem regiões de intervenção direta, a exemplo do Acesso Norte/Lauro de Freitas e vias alimentadoras, e137 kmde ciclovias em regiões indiretas. As obras estão orçadas em R$ 41 milhões.
Corecon-BA – Outro grande anseio dos baianos, também relacionada à circulação de veículos e pedestres, é a Ponte Salvador-Itaparica. Este projeto está realmente nos planos do governo para ser iniciado em 2015, como chegou a ser anunciado?
Gabrielli – Em 2013, estaremos intensificando os estudos, dentre eles, o modelo econômico-financeiro, além dos impactos ambientais. Devemos iniciar o processo de licitação no primeiro trimestre de2014. A ponte deve levar de quatro a cinco anos para ser construída e, portanto, ela entrará em operação em 2018 ou 2019.
Corecon-BA – O Senhor pretende ser o governador do Estado que dará início ou prosseguimento a essas e outras obras?
Gabrielli – Em primeiro lugar, o debate sobre a sucessão do governador Jaques Wagner é uma questão que está fora do tempo. Estamos em 2013 e temos ainda muita coisa para fazer. O governo está em plena efervescência e o orçamento desse ano vai transformar o tipo de ação que já tivemos, pois estamos praticamente duplicando os investimentos.
Corecon-BA – Como governador, além da questão do transporte público, quais seriam as suas maiores prioridades de governo?
Gabrielli – Minhas prioridades, hoje, são como Secretário do Planejamento. E, como tal, vou trabalhar pelo desenvolvimento da Bahia, atualmente muito voltado para o mercado interno. Hoje há um processo de transferência de renda, de aumento do salário mínimo e do emprego formal, expansão da atividade do pequeno produtor e do acesso das populações mais pobres aos serviços públicos. Isso criou um caldo de cultura que faz com que o desenvolvimento econômico nas cidades médias e pequenas seja crescente. É grande o dinamismo das feiras, do pequeno comércio, mas também é possível observar a descentralização do pequeno investimento, com a criação dos shoppings centers. Com isso, as limitações da infraestrutura dessas cidades desaparecem mais rapidamente porque elas ficaram estagnadas por muito tempo. Mas isso não é o suficiente. Existem alguns projetos estruturantes maiores, que permitem uma integração maior do Estado. A Ferrovia Oeste Leste, o Porto Sul, o Polo em Camaçari, a cadeia produtiva naval a partir do estaleiro criado em Maragojipe, o complexo de celulose no Sul da Bahia, a possibilidade programas de recuperação de aproveitamento hídrico na área do Raso da Catarina, o parque eólico, redefinição das relações logísticas da Baía de Todos-os-Santos a partir da ponte e o setor viário Oeste. Com isso, você tem um conjunto de ações no Estado, que são ações estruturantes que vão fazer dessa segunda década do Estado da Bahia um período de grandes transformações, ajudando a destravar o desenvolvimento do Estado.
Corecon-BA – Que mensagem o senhor gostaria de deixar para os Economistas Baianos em relação às expectativas de bons resultados para este ano de 2013?
Gabrielli – A Bahia ampliou muito sua capacidade de investimentos em 2013. Prova disso é o crescimento de 98,8% no volume de investimentos, que saltou de R$ 2,15 bilhões, em 2012, para R$ 4,28 bilhões neste ano, o que vai representar 13% do total do orçamento. Esse aumento foi viabilizado pela ampliação da margem de operações de crédito do Estado, que teve um volume de recursos captados da ordem de R$ 3,92 bilhões (47% a mais que em 2012). Os investimentos serão aplicados prioritariamente na área de Produção, que vai receber 54,4% a mais em 2013, passando de R$ 1,64 bilhão a R$ 2,54 bilhões em áreas como a de Transportes. O setor será beneficiado com R$ 854 milhões – 213,6% a mais ao ser comparado com o montante investido em 2012. Outros setores contemplados são os do Comércio e Serviços, que terá incremento de 50,3% (R$ 432 milhões), Ciência e Tecnologia (35,3% a mais, R$ 166 milhões), Comunicações (17% de crescimento, com R$ 116 milhões) e Agricultura (10,8%, somando R$ 474,8 milhões), incluindo ainda Organização Agrária e Indústria.