Com o desempenho firme da Economia dos EUA, menos turbulência na área do Euro e melhoria do ambiente de negócios no Japão por Abenomics, previa-se uma recuperação mais positiva da Economia Mundial em 2014. Porém, recentemente, três fatores preocupam a Comunidade Financeira Internacional (CFI). São eles:
1. Crise geopolítica Ucraniana, que pode causar uma paralisação temporária e parcial na pior das hipóteses
O Fundo Monetário Internacional (FMI) já está começando a preparar ajuda financeira de emergência para a Ucrânia.
2. Saída de recursos de países emergentes
Este esvaziamento de recursos foi iniciado com a decisão de término de afrouxamento de liquidez em janeiro, quando passou a circular no mercado financeiro a expressão “Fragile Five”, que significa os cinco países mais vulneráveis – Índia, Brasil, Turquia, Indonésia e África do Sul.
Estes países sofreram perda de divisas, desvalorização de moeda e enormes déficits em conta corrente da ordem de mais de 3% de PIB. Tais déficits estão sendo financiados por recursos de curto prazo, como é o caso da Turquia.
No início de fevereiro deste ano, a nova Chair do Federal Reserve Bank (FRB), o Banco Central Americano, Janet Yellen, disse no seu pronunciamento que os EUA não tinham responsabilidade pela saída de recursos de países emergentes. Ela citou o Brasil como país frágil (vulnerável) junto com a Turquia. Imediatamente o Banco Central do Brasil contestou por telefone o FRB.
Logo depois, na reunião do G-20 realizada em Sydney em 22 de fevereiro, foi decidido que “países desenvolvidos devem tomar o máximo cuidado com a possível influÊncia negativa para outros países ao tomar medidas em sua política monetária” (World Economic Outlook, FMI abril, 2014).
Previsão de crescimento de PIB %
2014 2015
Mundo 3.6 3.9
EUA 2.8 3.0
Área de Euro 1.2 1.5
Japão 1.4 1.0
China 7.5 7.3
Brasil 1.8 2.7
3. Situação caótica de inadimplência de “Xador Banking” da China
Os “Xador Banking” não são bancos autorizados pelo governo da China, mas vem financiando maciçamente investimentos em infraestrutura e na exploração de minas de carvão mineral no Interior da China, captando, por meio de juros elevados, recursos de empresas e pessoas físicas. Mas a redução de ritmo de crescimento econômico começa a causar problema. A CFI fica preocupada pela explosão de risco temendo um “Choque Lehman à moda chinesa” se o governo chinês errar nas medidas para solução do caso.
Fatores de risco da Economia Brasileira
1. Risco oriundo de continuação de baixo crescimento
O modelo atual de sustentação de economia brasileira por emprego e renda (taxa de desemprego de 5% e aumento líquido anual de renda) não poderá continuar se não for acompanhado por um crescimento das indústrias domésticas. Atualmente, o aumento de consumo das famílias está sendo absolvido por importações, assim resultando em baixo crescimento. A inflação, por sua vez, está começando a subir, refletindo aumento de preços dos produtos importados por causa de valorização de dólar.
O orçamento do governo está cada vez mais deficitário devido ao aumento de despesas da seguridade social e dos gastos com pessoal. O superávit da conta primária está sendo reduzido do patamar de 3% de PIB para 1 %. Assim, a política econômica do governo está entrando num beco sem saída.
No mês de março, o jornal The Financial Times da Inglaterra recomendou a renúncia do cargo ao Ministro Guido Mantega (no ano passado o periódico The Economist fez a mesma recomendação). É difícil entender porque a imprensa brasileira fica calada.
2. Risco causado pelo enorme Déficit em Conta Corrente (DCC)
Enquanto o valor da entrada de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) puder cobrir quase todo o DCC, as renovações da dívida externa no mercado internacional não ficam muito comprometidas. Entretanto, quando a CFI achar que o valor do DCC está se tornando grande demais, a situação do Brasil pode ficar complicada.
Vejamos alguns números (bilhões de dólares):
2011 2012 2013
Déficit em CC 52.5 54.2 81.4
Déficit em % PIB 2.1 2.4 3.6
IDE 66.7 65.3 64.0
IDE em % PIB 2.69 2.90 2.88
O problema está em 2013, quando o superávit da balança comercial caiu para 2.6 bilhões de dólares por causa de saldo negativo da Conta Petróleo de 23.6 bilhões de dólares (devido à redução de produção de petróleo e o aumento do consumo de gasolina no país), deixando aumentar a diferença entre DCC e IDE em 0.72% do PIB.
No Congresso, há um movimento para requerer a instalação de uma CPI da Petrobras. Segundo especialistas, as intervenções do governo na Petrobras são fatores que estão atrapalhando os investimentos e a produção da Companhia.
Conforme Sr.Shigeaki Ueki, ex-Ministro de Minas e Energia e também ex-Presidente da Petrobras, hoje no governo PT, dentre nove dirigentes responsáveis pela Companhia, oito são amadores no ramo do petróleo, enquanto tradicionalmente oito eram especialistas do ramo. O presidente do Conselho Administrativo da Petrobras é o Ministro da Fazenda Guido Mantega, que postergou reajuste de preços da gasolina no país considerando-o como fator inflacionário, prejudicando assim a rentabilidade da Companhia. Existe uma previsão de melhoria do DCC ate 3.2 % de PIB em 2014, com a normalização da conta petróleo e recente nível da taxa de câmbio.
Vale destacar que o governo brasileiro não estava tomando nenhuma medida concreta para promover as exportações enquanto o Real estava supervalorizado. Amarrado pelo Mercosul, não tomava a iniciativa para conseguir acordos de livre comércio FTA e EPA.
No fundo destes fatos, existe perda de diretriz na política econômica internacional por causa da ideologia. Prova disso é que a Presidente Dilma, no caminho de volta de Davos em janeiro, visitou Cuba, encontrando-se com Fidel Castro e Cristina Kirchiner (estava visitando o país), e anunciou a ajuda brasileira para construção de portos em Cuba. Aliás, acrescentou que a sanção econômica imposta a Cuba era indevida. Assim o Brasil fica juntamente com a Venezuela, a Bolívia, o Equador e a Argentina na turma pró-Cuba. Onde estão os interesses e benefícios para o Brasil?
3. Desconfiança do setor privado
A desconfiança do setor privado para com o governo e sua política vem se tornando cada vez mais séria As causas desta desconfiança são: intervenções do governo em áreas econômicas e alterações repetidas nas regras do jogo. Assim, empresários do setor privado acham impossível fazer investimentos. A Presidente Dilma não ouve as opiniões dos empresários. Daí, depois das reuniões, não sai nada de reação positiva para a economia. O ex-presidente Lula ouvia bem o que empresários falavam e logo tomava as medidas necessárias cabíveis.
A professora de Economia da Universidade de Campinas, Maria da Conceição Tavares, ensinava aos seus alunos, inclusive à Presidente Dilma e a Aluisio Mercadante, atual chefe do Gabinete Civilda Presidência, que “PIB, para o povo, significa emprego e renda, e que para atingir este objetivo, a autoridade responsável pela política econômica deve intervir na área econômica”.
Quem quer que seja eleito na eleição presidencial de outubro, deve mudar o rumo da política econômica e a maneira de realiza-la do governo atual. Se não acontecer uma mudança, a economia brasileira enfrentará sérios problemas.
Conclusões
O Mercado Financeiro projeta baixo crescimento da economia brasileira em 2014 e 2015. Se a desconfiança das indústrias do setor privado para com o governo continuar a crescer, os empresários postergarão seus investimentos. Porém, o governo espera um crescimento do PIB de 2.5% em 2014.
O novo presidente, a ser eleito em outro deste ano, devá ouvir bem a voz do povo brasileiro e realizar as reformas estruturais, tais como a reforma administrativa, fiscal e tributária, além da lei trabalhista e a reforma do Sistema de Pensão do Servidor Publico etc., para que o Brasil possa ficar na trilha do alto crescimento econômico. A Economia Brasileira possui, sem dúvida, potencial suficiente para isso.
Um fato que merece atenção especial é o desempenho de empresas de capital estrangeiro, especificamente europeu e americano. Sabemos que as subsidiárias brasileiras da Fiat, Whirpool e Santander estão ocupando o ranking nº.1 dentro dos grupos delas atuando no mundo inteiro. Elas continuam o investimento maciço no Brasil acreditando na potencialidade da economia brasileira e montando planos estratégicos de longo prazo.
No meio de baixos crescimentos do PIB, muitas empresas europeias e americanas planejam aumento de venda de dois dígitos e estão conseguindo alcançar a meta. Algumas estão desafiando a duplicação de venda de suas subsidiárias brasileiras até 2020 para que as brasileiras fiquem na primeira colocação do ranking mundial de seus grupos. Elas estão vendo o Brasil de longo prazo enquanto parece que empresários brasileiros estão vendo o ambiente de curto prazo.
Recentemente, algumas empresas japonesas estão começando a investir no Brasil valores relativamente elevados em novas áreas. Gostaria de recomendar que considerem no plano estratégico de investimento a potencialidade de longo prazo da economia brasileira e de seus negócios.
Takanori Suzuki é Business Advisor; atual Advisor da Sinto Kogio, Japão; ex-Chairman do Banco de Tokyo S.A.; ex-Senior Special Advisor da Deloitte Touche Tohmatsu Internatinal, ex-Conselheiro da Mitsui- Sumitomo Seguros Brasil, ex-membro do Grupo de Apoio para Investidores Internacionais da FIESP. Realiza palestras e escreve artigos no Japão e no Brasil. Autor de vários livros sobre a Economia Brasileira inclusive “A Economia Brasileira em 2020 “- Editora Nihon Keizai Shimbun.