O objetivo desse artigo é fazer algumas prospecções em relação ao resultado esperado para o desempenho econômico da Bahia em 2014, ano que sem dúvida merece uma atenção especial dos economistas, seja pela realização da copa do mundo no Brasil, seja pelas expectativas já causadas pelas eleições presidenciais que poderão definir novos rumos para a economia brasileira em curto espaço de tempo.
O futuro é incerto e difícil de prospectar sem a utilização de alguns condicionantes que se concretizados podem trazer algumas respostas para a inquietude em relação ao desempenho do PIB da Bahia no ano em pauta. Por isso, prefiro trabalhar com a análise de cenários, que podem minimizar os erros de previsões feitas sem que nenhuma pesquisa econômica anterior nos forneça algumas pistas em relação ao que efetivamente está guardado de bom e de ruim para a economia baiana em 2014.
Certo mesmo é que a economia baiana vem apresentando certo destaque ao longo dos últimos anos. Depois de apresentar um crescimento econômico de 4,1% em 2011, 3,1% em 2012, 2,7% em 2013, as expectativas para 2014 giram em torno de um crescimento maior do que o registrado ao longo dos últimos dois anos, com o cenário relativamente moderado apontando um crescimento de aproximadamente 3,5% nesse ano. Não vou aqui nessa breve incursão me ater aos modelos de previsão econométrica que apontam cenários até mais surpreendentes do que esse, mas antes, tentar analisar de forma embasada os argumentos que me fazem acreditar em um crescimento econômico para a Bahia novamente superior à taxa registrada para a economia brasileira, que segundo dados das principais consultorias especializadas do Brasil já projetam um crescimento de 2,5% para a economia brasileira nessa mesma comparação temporal.
Para que possamos fazer uma projeção do desempenho econômico da Bahia é preciso ter em mente a estrutura produtiva da Bahia. Com base nos dados da SEI, a economia baiana tem as seguintes características: um setor de serviços que representa aproximadamente 62% do PIB, com especial destaque para os serviços ligados às atividades comerciais e ao setor público; outros 29% estão alocados no setor industrial, que mesmo com as recentes perdas de participação ainda continua sendo aquele que apresenta maior dinamismo em termos de crescimento econômico, sobretudo pelo desempenho recente da construção civil e pela importância da indústria de transformação notadamente localizada na Região Metropolitana; e, finalmente, aproximadamente 9% do PIB baiano é gerado pela agropecuária, que se ressente por dois anos de fortes secas que marcam as principais regiões produtoras e exportadoras da Bahia.
Comecemos, pois, com o menor dos setores em termos de valor adicionado, mas não menor em importância uma vez que a maior parte dos municípios baianos do interior tem forte correlação de dinâmica econômica atrelada ao desempenho da cadeia agropecuária (tanto internamente, quanto externamente). Apesar das secas que castigaram toda a região Nordeste do Brasil entre 2012 e durante 10 meses de 2013, as chuvas de novembro e dezembro foram importantes para iniciar uma grande recuperação no setor baiano.
Tanto que as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento– CONAB para 2014 já apontam uma safra baiana de grãos 25% maior que a registrada em 2013, esperando-se safras recordes para a produção de soja e algodão no Oeste da Bahia. Os problemas com a lagarta do milho em sentido contrário criam perspectivas menos otimistas para essa lavoura. Feijão deve seguir tendência de elevação do final de 2013 e a mandioca deve se recuperar das perdas das colheitas passadas. As expectativas são também de recuperação na pecuária, porém em menor escala com projeções próximas a elevação de 10% na produção. Confirmadas essas recuperações, nos teríamos para 2014 o setor agropecuário, isto é, 9% do PIB da Bahia crescendo aproximadamente 15%.
Na indústria baiana os resultados não devem ser tão auspiciosos, porém o setor deve seguir em ritmo lento e gradual de recuperação. O cenário externo deve dar a tônica para a indústria de transformação. As expectativas de recuperação da Economia Norte Americana e de maior crescimento da Zona do Euro criam perspectivas positivas para as produções química e petroquímica do Estado.
A China, por outro lado, pode diminuir a intensidade do crescimento em movimento semelhante ao ocorrido em 2013, e diminuir as exportações baianas. Seja em função da demanda externa, seja pela recuperação evidenciada em 2013, as expectativas para a indústria de transformação da Bahia giram em torno de 3% em 2014. Na construção civil, por sua vez, as expectativas são de uma retomada na atividade, uma vez que o ano de 2013 não foi nada bom para o setor.
A necessidade de aceleração das últimas obras para a copa do mundo, sobretudo relacionadas com a melhoria da mobilidade urbana bem como a retomada nas vendas do mercado imobiliário baiano devem proporcionar uma taxa de incremento na construção da ordem de 2,5%. A grande incógnita para a indústria baiana está relacionada com a efetivação de importantes investimentos programados para serem realizados até o ano de 2015, montante de aproximadamente R$ 30 bilhões, segundo os dados da Secretaria da Indústria, Comércio e Mineração do estado. Esses investimentos, sobretudo os relacionados com a energia eólica e no parque automotivo e mineração, são os de maior montante e têm capacidade de gerar efeitos multiplicadores em toda a cadeia da indústria baiana, de forma que o crescimento projetado para 2014 potencialmente pode ser ainda maior. Para efeitos dessa análise preferimos trabalhar com um cenário moderado, com o setor industrial expandindo-se em torno de 2,8% nesse ano.
Em relação ao setor de serviços, que como já mencionamos representa 62% do PIB baiano as expectativas são um pouco menores para 2014, em função de dois fatores principais: a diminuição na intensidade de crescimento na atividade comercial, fato que já foi observado ao longo do ano de 2013, em função do esgotamento dos incentivos à elevação de demanda, mas também em função de menor elevação na renda média do trabalhador, dado que o ganho real do salário mínimo foi bastante inferior ao ocorrido em 2013. Além disso, a preocupação com a inflação e as expectativas de mercado em torno de nova elevação da taxa de juros Selic devem frear o acesso ao crédito e desincentivar o consumo principalmente no primeiro semestre de 2014.
Uma aposta bastante razoável para o setor seria uma elevação próxima a 2,0% nesse ano. O outro fator que deve diminuir o ímpeto de crescimento dos serviços está relacionado com o resultado esperado para administração pública, que deve ter uma expansão de apenas 1,0%. Em ano eleitoral a Lei de Responsabilidade Fiscal determina uma série de restrições aos gastos públicos, mas, além disso, o aperto fiscal deve se intensificar, com a necessidade de se produzir maior superávit fiscal, até mesmo em função do aumento dos gastos correntes do estado ao longo de 2013.
Os setores de serviços que devem apresentar os maiores desempenhos são aqueles relacionados com transporte, em função do maior escoamento da produção agrícola e industrial; os setores de alojamento e alimentação que devem ter grande impacto em função do incremento no turismo e dos efeitos da copa do mundo; e, por fim, os serviços financeiros que normalmente se expandem atrelados aos desempenhos dos setores agrícola e industrial. Tomando-se por base o cenário moderado, nem pessimista nem otimista, que estamos trançando para a economia baiana, o setor de serviços deve se expandir aproximadamente 2,2% em 2014.
Se essas taxas setoriais se efetivarem, o resultado global do valor adicionado pela agropecuária, indústria e serviços apresentará um incremento de 3,5% em 2014 em comparação a 2013. Partindo-se de uma projeção de que os impostos cresçam no mínimo nesse mesmo patamar, então o PIB da Bahia deve se expandir, dentro de um cenário moderado, em aproximadamente 3,5% em 2014. Nesse momento, no qual algumas incertezas pairam sobre o futuro da política macroeconômica brasileira e em relação ao comportamento da economia mundial e ainda sem nenhuma estatística relativa ao desempenho dos setores produtivos da Bahia para o ano de 2014, quanto mais conservador for o cenário econômico projetado, melhor. Afinal, prudência e canja de galinha não fazem mal nem mesmo aos economistas!
* Gustavo Casseb Pessoti é graduado em Ciências Econômicas e especialista em Planejamento Regional e Orçamento Público pela UFBA. É Especialista em Planejamento Governamental e Gestão Pública e Mestre em Análise Regional pela UNIFACS. Atua como Professor e Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da UNIFACS. É Diretor de Indicadores e Estatísticas da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), Diretor Regional da Associação Nacional de Cursos de Graduação em Ciências Econômicas (ANGE) e Presidente do CORECON-BA.