Os pais se preocupam em ensinar aos filhos como é importante ganhar dinheiro, mas são raros aqueles que os preparam para administrá-lo. A maioria das escolas e universidades, por sua vez, não ensina os princípios básicos da educação financeira. “O resultado são pessoas endividadas, que não sabem planejar e controlar suas finanças, não aprenderam a poupar ou investir e que, por tudo isso, têm dificuldade para realizar seus sonhos e manter o equilíbrio pessoal e familiar quando o assunto é dinheiro”, afirma Bruno Pires Sacramento, Superintendente do Conselho Regional de Economia da Bahia (Corecon-BA).“Famílias e escolas precisam disseminar a Educação Financeira para acabar com a cultura do endividamento”, defende o Economista.
Nos supermercados e shoppings, a disposição dos produtos em locais estratégicos, a beleza das embalagens e o prazer das compras são atributos quase irresistíveis para os adultos. Para as crianças, que não entendem de custos, aperto orçamentário, inflação e dificuldades para conseguir saldar as dívidas, a situação é mais complicada. “Por tudo isso, a educação financeira deve chegar, com linguagem e atitudes adequadas, também aos pequenos”, defende Bruno Pires.
Maior controle sobre o dinheiro, maior consciência sobre as escolhas e maior eficiência no uso da renda são alguns dos objetivos da Educação Financeira. Para atingi-los, é preciso mudar hábitos e costumes. “Antes de iniciar a mudança, é preciso responder a duas questões: 1ª) Quais são as minhas principais despesas? e 2ª) Todas as despesas são prioritárias?”. A partir dessas considerações, é necessário compreender que as dívidas são sintomas de desequilíbrio financeiro.
Fim das dívidas: independência financeira já!
Para Bruno Pires, “viver sem dívidas é sinônimo de independência financeira”. Para acabar com as que já existem, é preciso considerar os fatores que levaram até essa situação. Foi um revés na vida, uma situação de emergência para a qual não estava preparado ou simplesmente falta de controle? Se o motivo for este último, após sanar as dívidas, é preciso atenção para não repetir o erro. Antes de iniciar qualquer negociação, o Economista sugere a observância de algumas dicas preciosas:
1. Priorizar as dívidas com as maiores taxas de juros;
2. Não esquecer das despesas básicas e fixas;
3. Conversar com credores, negociar. Deixar claro que a intenção é quitar a dívida;
4. Pedir redução nos juros se for quitar a dívida no momento da negociação;
5. Após a negociação, exigir a exclusão do nome do SPC e SERASA;
6. Dar atenção especial para as dívidas que têm bens como garantia;
7. Se for possível, substituir as dívidas por empréstimos com taxas de juros menores.
8. Em caso de dúvidas ou se o devedor se sentir lesado, os órgãos de proteção ao crédito devem ser consultados.
Para facilitar o fim das dívidas e evitar a contração de novas, Bruno Pires sugere a redução das compras parceladas. Além disso, ele diz que até que todas as dívidas sejam quitadas, nenhuma compra deve ser feita se não for uma necessidade básica. “Vale considerar a possibilidade de interromper provisoriamente cursos de idioma, academia, terapias e massagens ou mesmo adiar as férias. Essas serão melhor desfrutadas após o reequilíbrio da vida financeira”, acredita.
Cartão de crédito: cuidado com os juros abusivos!
Quando o consumidor compra, recebe o produto e não paga seu valor total, é preciso lembrar que alguém está financiando para depois receber, “nada é de graça”. Considerando que cartão de crédito e cheque especial são empréstimos fáceis; pré-aprovados; atraentes; sem burocracia, filas, consulta ao SPC/SERASA, avalista ou “chá de espera” para falar com o gerente, e que eles estão sempre à mão e disponíveis a qualquer hora, “precisamos ser racionais em relação ao seu uso. Afinal de contas, os juros dessas modalidades são extorsivos e podem levar qualquer um à falência”, resume o Superintendente do Corecon-BA.
Para usar o cartão de crédito a favor do bolso, o Economista enumera dicas importantes:
1. Nunca atrasar o pagamento da fatura nem pagar o mínimo. “Tem que pagar em dia e integralmente, senão o juro é caríssimo!”;
2. Nunca aceitar a cobrança de anuidade do cartão sem argumentar. “Se você é bom pagador, uma simples ligação para a operadora pode resultar em desconto de 90% da taxa. A ameaça do cancelamento do cartão pode ser uma estratégia”.
3. Pedir para a operadora reduzir o limite de cartão. “Quase ninguém faz isso, correndo o risco de gastar mais do que poderá pagar. A soma dos limites de todos os cartões tem que corresponder a, no máximo, 50% da renda. O que passar disso, é melhor cortar”.
4. Há coisas que não devem ser pagas no cartão. “No pagamento de alguns serviços controlados ou taxas cobradas pelo governo, como água, luz e impostos, há a cobrança de juros altos para pagar a conta no cartão”.
5. Em vez de anotar gastos, é melhor pagar quase tudo no cartão de crédito. “Sou contra esse negócio de anotar o pão de queijo, o cafezinho. Não é hábito da pessoa anotar tudo”.
6. Olhar o extrato do cartão toda semana e checar a lista de gastos. “Se a pessoa paga quase tudo no cartão, o extrato do cartão pode servir como controle impresso de seus gastos. Usar essa lista de compras para saber onde está indo o dinheiro e colocar os gastos em uma planilha são duas atitudes inteligentes. É melhor checar o extrato toda semana e não só quando chega a fatura fechada”.
7. Saber o prazo de validade dos pontos acumulados no cartão. “Vale a pena se informar sobre a validade dos pontos bem como de outros serviços que o cartão oferece. É bom ler o manual do banco. Tem gente que tem seguro de vida, seguro de viagem e na hora de viajar contrata o seguro porque não leu o manual do cartão e não sabia que tinha”.
8. Usar cartão que tenha sistema de pontos gratuito. “Tenhamos cartões que dão algum tipo de vantagem e não cobrem por elas”.
9. Fugir dos cartões com Bandeira de lojas, mesmo que prometam descontos. “Além de muitas vezes cobrarem juros e anuidades que anulam as promoções, há outras armadilhas nos cartões de algumas varejistas. Em muitos casos, a fatura só pode ser paga dentro da loja. Com isso, a pessoa cada mês compra mais uma coisinha. Ou não consegue ir à loja por diversos motivos e acaba pagando juros. Tudo isso é friamente pensado para que as pessoas gastem mais”.
10. Não aumentar gastos só para acumular pontos. “O uso inteligente do programa de pontos é aproveitar melhor os gastos que você já tem, e não usar os pontos como desculpa para abusar nas compras”.
11. Ter no máximo três cartões. “Quanto mais cartões, mais difícil é controlar as despesas”.
12. Ter apenas um cartão titular na Família. “Se houver um cartão titular e outros dependentes, todos os pontos acumulados vão para o titular. Podem ser usados para conquistar mais rápido um objetivo comum da família, como passagens de avião”.
13. Não usar o cartão para complementar a renda. “Cartão não serve para comprar o que o seu salário não pode pagar: é um empréstimo, como qualquer outro. Procure não comprometer mais que 30% da renda. Outra dica é colocar post-its no cartão de créditos com os seus objetivos, como casa própria ou independência financeira, por exemplo. Assim, quando a pessoa for gastar, ela pode repensar”.
14. Comprar depois do fechamento da fatura. “É válido se informar com a operadora sobre qual a data em que a sua fatura é fechada. Em geral são cinco dias antes do vencimento. Assim, se fizer uma compra nesse período, só vai pagar cerca de 40 dias depois”.
Crédito e Empréstimo Consignados
Crédito consignado é um empréstimo com o desconto da prestação feito diretamente na folha de pagamento ou benefício previdenciário do contratante. Nesta modalidade, o cliente deve conceder, à instituição financeira, autorização prévia e expressa, por escrito, para que a consignação seja feita em sua folha de pagamento ou benefício. Atualmente, as taxas máximas são de 2,5% ao mês, para o empréstimo, e 3,5% ao mês, para o cartão consignado. “O beneficiário deve ficar atento a esses limites, pois a taxa contempla todos os custos da operação de empréstimo ou cartão de crédito, ou seja, o custo efetivo”, alerta Bruno Pires.
Se a pessoa tem uma necessidade que estava adiando, deve analisar seu orçamento, ver se a prestação do empréstimo não vai comprometer outras despesas essenciais. Deve lembrar que no início do ano chegam despesas que não são comuns ao longo do ano (IIPTU, IPVA, IR, Matrículas, Material Escolar). Após avaliadas todas essas nuances, deve ainda fazer as contas antes de optar por um empréstimo consignado. “Para calcular, basta comparar o valor que ele tomará emprestado e o total que será pago à instituição. Exemplo: se para ter agora R$ 500 na conta, a pessoa assumirá dez prestações de R$ 58, o valor total final será de R$ 580. Ao constatar isso, é preciso se perguntar: vale a pena pagar R$ 80, ou é melhor, reduzir R$ 80 do consumo que eu teria nos próximos meses, para corrigir essa falta de dinheiro que tenho agora?”
Para quem está pendurado no cheque especial ou cartão de crédito, o empréstimo consignado é uma boa opção para sair do sufoco. Tem juros menores e prazos maiores. Já quem está no crédito pessoal parcelado ou no carnê da loja, tem que analisar o desconto que será dado pelo pagamento antecipado da dívida. Se a taxa de juros do desconto for menor que a do empréstimo consignado, é melhor pagar diretamente ao credor. Caso contrário, vale tomar o empréstimo. “Mas, atenção, não se deve tomar um empréstimo consignado para comprar supérfluos. Ele não é barato, tem apenas um custo menor que o exorbitante custo do cheque especial ou cartão de crédito”, alerta o Economista Bruno Pires.
É importante frisar que a partir do mês seguinte ao início e durante todo o prazo do empréstimo, o salário ou aposentadoria virá menor, em até 30%, em relação ao mês anterior e, por outro lado, as despesas mensais continuarão as mesmas ou maiores (inflação). Portanto, vale atentar para algumas dicas importantes:
1. Não tomar empréstimos para fazer favores a familiares ou a terceiros. “Lembre-se que é com seu salário/pensão ou aposentadoria que você vai pagar sua alimentação, sua saúde, enfim, manter o seu dia-a-dia”;
2. É preciso ter muita certeza de que as prestações do empréstimo consignado caberão no orçamento mensal da família, não consumindo o dinheiro que seria destinado a outros gastos indispensáveis;
3. Leia atentamente o contrato, inclusive as notas de rodapé;
4. Verifique se as prestações propostas cabem no seu orçamento;
5. Verifique se não há venda casada;
6. Verifique qual a financeira que está sendo sugerida, ou imposta;
7. Verifique se há Taxa de Adesão e outros custos adicionais;
8. Verifique se a data de pagamento é compatível com a de recebimento de seu salário.
Como comprar e investir bem
O Economista Bruno Pires sugere que ao escolher uma mercadoria, antes de pagar por ela, o consumidor deve ter a certeza de que realmente precisa do bem e de que ele irá agregar algum valor à sua vida ou da sua família. “É preciso relacionar os itens que são indispensáveis e necessários, e fazer uma triagem para decidir o que comprar. A decisão está diretamente relacionada à necessidade da compra e deve ser compatível com a renda disponível. Não vale a pena comprar apenas para manter um aparente status social, pois de que adianta ficar com a corda no pescoço para pagar o financiamento de um carro de luxo?”
Além disso, é preciso considerar a possibilidade de adquirir substitutos, ou seja, produtos mais baratos que atendem a necessidade do momento. O ideal é sempre fazer uma pesquisa de preços antes de comprar e optar por onde for mais em conta (especialmente os produtos de maior valor). É preciso atentar para os produtos promocionais, pois muitas lojas utilizam estratégias “marqueteiras” para atrair clientes.
Bruno Pires sugere que se a pessoa tiver o dinheiro disponível, é melhor comprar à vista e pedir desconto. “Ao procurar um produto que precisa comprar, não devemos demonstrar sentimentos, pois se o vendedor percebe que gostamos muito do produto que está sendo apresentado, ele poderá se aproveitar do nosso sentimento para finalizar a compra. É preciso ter noções dos preços praticados no mercado para não comprar algo que foge à realidade. As pessoas devem comprar somente o que cabe no seu orçamento para não contraírem dívidas e, de preferência, em períodos em que os produtos tendem a ser mais baratos”, conclui o Economista.