O governo da presidente Cristina Kirchner sustenta que a proporção de pobres na Argentina está no nível mais baixo das últimas quatro décadas: apenas 5,4% da população, ou 2,2 milhões de pobres. Segundo o governo Kirchner, a Argentina não tinha uma pobreza tão baixa desde 1974, quando o presidente Juan Domingo Perón – chamado de “o protetor dos trabalhadores” – estava prestes a morrer.
No entanto, os dados elaborados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, não são levados a sério por economistas, sindicatos e entidades universitárias, que acusam o organismo estatístico de falsificar os números – especialmente os da inflação – desde janeiro de 2007.
A Universidade Católica Argentina (UCA) – que elabora há vários anos um índice paralelo – indicou, porém, em seu novo relatório que a pobreza assola atualmente 26,9% dos argentinos. Essa proporção quintuplica o número de pobres admitido pela Casa Rosada. Em vez dos 2,2 milhões de pobres oficiais da presidente Cristina, o país, segundo a UCA, teria 11 milhões.
O anúncio do índice da UCA teve ampla repercussão neste ano na Argentina, principalmente, pelo fortalecimento político e social que a Igreja Católica está tendo no país graças à recente entronização do cardeal Jorge Bergoglio, um portenho do bairro de Flores, como o novo papa Francisco.
Enquanto que para o Indec a pobreza caiu de 6,5% em 2011 para 5,4% em 2012, para a UCA a proporção subiu de 21,9% para 26,9% no mesmo período. A proporção de indigentes também apresenta enormes disparidades. Para o governo são 600 mil indigentes em toda a Argentina, enquanto que para a entidade acadêmica são 2,2 milhões.
Segundo relatório da UCA, a pobreza estrutural persiste na Argentina, “apesar dos enormes esforços em matéria de gasto social, pois 20% dos lares recebem algum programa social”.
Para o monsenhor Jorge Lozano, presidente da Pastoral Social, “existe um estancamento na situação social”. Segundo ele, “se não existe esperança para os pobres, tampouco existirá esperança para os ricos”.
Em 1974, a Argentina era o paraíso da classe média na América Latina. Na época, contava com menos de 6% de pobres. Mas a sequência de ajustes e crises econômicas provocaram uma disparada na proporção de pobres, que em 1995 constituíam 20% da população. / A.P.