A falta de seriedade na contabilidade e, sendo menos estrito ao superávit primário, nos leva a uma reflexão à causa e não ao seu estampado efeito. Ou seja, as atenções voltadas à febre e não a sua infecção. Estamos vivenciando o deterioramento e caminhando para uma situação macroeconômica desastrosa. Panorama esse, observado por Bill Gross da PIMCO, da seguinte maneira: as anormalmente altas taxas de juros reais e nominais que é forçado a estabelecer atualmente no Brasil (leia-se: gastos públicos).
Vejamos, a presidente, em meados de setembro de 2013 fora bater na porta da Goldman Sachs, ou seja, na toca dos leões. Em discurso, quis mostrar que o Brasil é uma nação séria em sua governança fiscal. Só o fato de ter ido lá, já está errado. É sempre bom lembrar que o “Grande Capital” não foi educado em escolas brasileiras. Portanto, não são incautos quando se trata de seus estimados recursos. Na verdade, a presidente saiu à procura de autoafirmação, chegando ao ponto de discursar, no Fórum Econômico Mundial (WEF), que somos uma nação fiel aos preceitos do Consenso de Washington, que é um tanto paradoxal ao que se está executando (leia-se: superávit primário de 2009, 2010 e 2012).
Agora em Davos (janeiro de 2014), procurando mostrar que o país pode, ainda, ser eficiente e enfatizando as concessões públicas – não é privatização, é concessão gente! -. Diz que o país cresce e que a inflação está sob controle, mesmo estando distante da meta e raspando o teto. É pra rir?! Vejam:
Meta¹: 4,5%
Status quo (2013): 5,91% (31,33% acima da “meta”, e somente a 9,98% do “teto”)
Teto: 6,5%
¹Glossário: Uma “meta” é um objetivo “almejado” que pode ser mensurado e claramente² definido.
²Transparência.
A atenção do atual governo está voltada em deixá-la com uma confortável e compulsória estadia na banda superior dessa meta. Seria plausível, se houvesse crescimento significativo que justificasse tal medida. Momento algum se discutiu chamá-la ao centro.
Cabe lembrar, que esta proeza só não foi pior devido ao quase pleno esfacelamento – sacrifício – de uma das nossas fontes de orgulho (leia-se: Petrobras). A petrolífera brasileira está passando por um processo de entropia, aos olhares mais perscrutares dos investidores. Como também, os baianos do Grupo Odebrechet na sua aposta ao etanol. Estão tendo sérios problemas ao investir contra a maré dos subsídios ao combustível, podendo chegar ao cúmulo de macular a imagem de mais uma empresa de sucesso genuinamente brasileira.
Vamos recordar: no início da década de 80, diferente da medida aplicada por Jimmy Carter para tentar conter “artificialmente” a inflação, Reagan deixou os preços dos combustíveis livres, e com isso atraiu, em curto período, novos investimentos para o setor alargando assim, a oferta no curto prazo e o beneficio vindo ao médio e longo prazo.
Vejamos, ano eleitoral, o superávit será respeitado? Claro que não! É por isso que a natureza do discurso foi direcionada aos financistas de Wall Street, a quem ela tanto combate. Ou seja, volveu-se. Submetendo-se as regras do mercado. Buscando o tempo que necessita o para retomar o fôlego até outubro deste ano. Disse amém, após pedir a benção aos miserable capitalistas.
Não existe meio termo. O “Grande Capital” quer ter a ressonância da meta definida no exercício, que é seu norteador. O dever de casa! Se não for respeitada, a sua moeda também não é. Logo, se prometeu, cumpra! O Brasil é pujante por natureza, rico! Está apenas sendo mal gerido e jogado à sorte para as possíveis externalidades por vir. (leia-se: xisto, quantitative easy 3, simandou, falácia pré-salsiana, PIB crônico de um só digito chinês, downgrades, bolha imobiliária, etc…).
Também destaco a vergonhosa forma de como é feito, sucessiva e levianamente, os “cálculos criativos” para se chegar ao superávit primário, onde as despesas do PAC não são contabilizadas. Para um melhor entendimento dessa criatividade, digamos que ao fazer uma faxina e colocar todo o lixo debaixo do tapete resolveríamos temporariamente um problema, mas acumularíamos uma gravidade maior para uma limpeza futura (exercício fiscal seguinte). E isso, de forma exponencial.
O “Grande Capital” não é cego, apenas fingi-se de surdo. E, se o triunvirato das agências de risco resolverem nos amarrar uma bigorna (downgrade), eles: Carlyle, BlackRock, KKR, Berkshire Hathaway, BlackStone, entre outros, certamente escoarão para portos mais seguros. Porque os fundos têm esse referencial de risco como incontestável e fundamental pré-requisito ao investimento.
Por isso da necessidade de ajuste fiscal (redução de gastos públicos) e o sacro respeito ao superávit primário. Em citação, Gustavo Franco – ex-presidente do Banco Central – diz: “A responsabilidade fiscal não é apenas uma condição para que a inflação seja baixa, é uma pré-condição para o crescimento alto. Esse é o pensamento que pessoas de cabeça heterodoxa não têm…”. Que em certas situações, é como se estivéssemos à beira do precipício e que o melhor passo, é um passo para trás. Adesão essa, totalmente fora de cogitação no atual governo, de linha heterodoxa, e pior, com vistas no horizonte da renovação do pleito.
A inflação é a mãe de todos os males, e todas as medidas artificialistas alinhadas à ilusão premente das ideias de micro gerenciamento – coeteris paribus – tem curta margem de manobra em uma economia tão complexa como a nossa. Por isso, falhas! Já tencionou demais, o dique romperá mais cedo ou mais tarde. Mas ela virá! Segundo Bill Gross: “O medo de todo investidor é a inflação, que corroe o retorno esperado”. A expectativa empresarial se reduzirá ao pessimismo crônico, repassando o “imposto inflacionário” para o estrato mais pobre da “nossa” sociedade.
E por fim, em paráfrase ao epíteto de certo assessor estratégico de Bill Clinton nas eleições de 1992, a aludir o ponto onde se encontra o cerne dessa problemática – “É a presidenta, estúpido!”.
Autor: Ronaldo Maciel Góis Rodrigues – Estudante de Economia – Universidade Salvador – UNIFACS. Extremamente curioso. Concordante com os polêmicos e contestante de todos os conceitos atuais. TFA
“O processo pelo qual é criado o dinheiro, é tão simples que a mente não aceita” John Kenneth Galbraith.
* Este espaço para publicação de artigos, necessariamente, não evidencia a opinião desse Conselho ou de seus conselheiros. Destina-se ao livre exercício da cidadania e democracia, através da opinião de nossos Economistas e estudantes dos cursos de Economia.