Em tempos de desaceleração da economia e inflação e juros em alta, a cada mês as famílias se deparam com gastos maiores que o previsto.
O resultado disso é que o montante que deveria ser destinado a criar ou aumentar a reserva financeira vai ficando menor ou até desaparecendo. O problema aparece nos dados de captação da caderneta de poupança, que vive uma verdadeira sangria: no ano, até agosto, os saques superam os depósitos em R$ 48,49 bilhões, a maior retirada para o período desde o início da série histórica, iniciada em 1995, informou o Banco Central na última sexta-feira. Para evitar que a situação se agrave, a saída é rever os gastos. Ou seja, é hora de fazer o seu próprio ajuste fiscal.
Para Ricardo Figueiredo, consultor do programa Vida Investe da Fundação Cesp, muitas vezes esse corte de gastos só ocorrerá com a mudança de hábitos. Ele lembra que, nos últimos anos, com o maior acesso ao crédito e aumentos salariais acima da inflação, as famílias incorporaram novos itens ao seu cotidiano. Mas o quadro mudou.
— Agora é a hora de olhar para o orçamento, enxugar o que é possível e postergar o que não é urgente. Para mim, a gente viveu um falso período de prosperidade, já que os novos hábitos adquiridos não necessariamente estavam dentro da capacidade financeira das pessoas — disse.
Ele defende uma revisão total dos gastos para não só evitar que as despesas sejam maiores que a renda, mas também para sobrar algum dinheiro ao fim do mês e começar, ou aumentar, a poupança, que pode ajudar em tempos difíceis na economia.
O GuiaBolso, aplicativo destinado à gestão financeira, fez um levantamento com base nos dados de 25.600 usuários para descobrir como está a saúde financeira do brasileiro. E a situação é preocupante. Em janeiro, na média, as pessoas gastavam 43,9% da renda com gastos essenciais, como luz e moradia, e outros 52,3% com despesas atreladas ao estilo de vida, como a academia e as idas ao cinema. A poupança acabou ficando em segundo plano. Em julho, a situação piorou Com 48% da renda indo para gastos essenciais e outros 52,8% para o estilo — Percebemos que junho foi o mês da virada. Acredito que o desemprego ou a perda de renda passou a ficar mais evidente entre os consumidores. E, sem ter organizado o orçamento, eles passaram a gastar mais do que recebem — avalia Thiago Alvarez, fundador do GuiaBolso.
TROCA DE DÍVIDAS
Já na avaliação do educador financeiro Reinaldo Domingos, a reorganização financeira deve envolver toda a família. E, mais do que se preocupar com qual é a renda real e o que terá de ser cortado, é importante traçar alguns objetivos de curto e longo prazos.
— Se você não tem um objetivo, você desestimula as pessoas a fazerem esse esforço. É preciso aumentar a autoestima da família para combater a crise. Não se combate uma crise com o sentimento de derrotado — afirma Domingos.
Em sua avaliação, entre 20% e 30% do gasto de uma família com consumo poderiam ser cortados. Além de rever pacotes de assinatura, ele aconselha a tentativa de novas marcas de produtos no supermercado e maior atenção com hábitos que podem evitar gastos, como deixar luzes acesas e tomar banhos demorados.
Fabiano Guasti, professor da USP de Ribeirão Preto e pesquisador do Instituto Assaf, acrescenta que, no caso dos endividados, é mais do que urgente trocar dívidas caras por opções em que os juros sejam menores. Ou seja, ver o quanto se deve no cartão de crédito rotativo e no cheque especial e pegar um empréstimo pessoal, em que os juros são menores.
— Se for um crédito consignado, melhor ainda — diz.