O ano de 2014 iniciou com muitas expectativas. Passado o primeiro semestre, os índices dão sinal de cautela e recessão na economia do país, que apresentou queda pelo segundo trimestre consecutivo no Produto Interno Bruto (PIB). Na contramão do cenário nacional, a economia baiana cresceu no segundo trimestre, contabilizando uma expansão de 1,56% em relação ao mesmo período de 2013.
Com o intuito de traçar um panorama com as perspectivas e desafios da econômica regional entre 2014 e 2015, o Conselho Regional de Economia da Bahia (CORECON-BA) elaborou uma edição especial do boletim Economia em Foco. A proposta é trazer uma orientação dos rumos esperados para o setor econômico e financeiro regional, através da análise de diferentes pontos de vista e instituições relevantes do segmento no Estado.
Confira depoimentos desta série.
“ No início do ano, tínhamos uma perspectiva mais promissora para a Economia Baiana, em função da esperada recuperação do setor agropecuário, fortemente afetado pela seca dos últimos dois anos, e pelo evento esportivo mais esperado do século, que era a Copa do Mundo no Brasil. Em função dessas perspectivas projetamos uma taxa de crescimento de aproximadamente 3,5% em 2014. Com o passar do primeiro semestre, podemos perceber que só um desses fatores realmente impulsionou a economia baiana, com uma recuperação na safra de grãos da ordem de 43% e um crescimento da agropecuária como um todo em 14% em relação ao ano de 2013. Temos que ser realistas com a análise do PIB, no que diz respeito ao crescimento da atividade interna da Bahia. Pensar em um crescimento entre 1,5% e 1,8% em 2014 parece extremamente razoável, até mesmo porque uma parte considerável da safra agrícola do ano já foi colhida, garantindo para o ano em questão um bom resultado na cadeia do agronegócio. Na indústria, espera-se que a recuperação da construção civil amenize um pouco a queda esperada para a indústria de transformação, que certamente vai continuar negativa, mesmo com uma recuperação esperada para o último trimestre do ano. O setor de serviços, a despeito de uma diminuição na intensidade de crescimento do consumo das famílias baianas, também deverá registrar uma taxa positiva no segundo semestre de 2014 e fechar o ano com uma expansão próxima a 1,5% em relação a 2013. O mais importante é que as perspectivas futuras para a economia baiana são a da manutenção do crescimento econômico em 2015. Novos investimentos em curso podem dar uma nova tônica para o perfil industrial do estado. Mas ainda é cedo para fazer previsões sobre o futuro da economia baiana. Melhor acompanhar os desdobramentos da economia nacional e internacional no decurso do segundo semestre, antes de calibrar qualquer palpite para o desempenho econômico da Bahia nos anos vindouros.
Gustavo Pessoti
Diretor de Indicadores e Estatísticas da SEI
Presidente do CORECON-BA
“A atividade econômica na Bahia manteve o ritmo de expansão no primeiro semestre em alguns setores. Os dados do estado mostram o seu bom desempenho, em comparação ao resto do país, em áreas como agricultura, indústria, comércio e serviços. Nos primeiros sete meses de 2014, a Bahia teve um saldo de 27.231 postos de trabalho, dado que faz da Bahia o líder em geração de emprego na região Nordeste, com quase o dobro do segundo colocado. Esse resultado reflete uma política de dinamização da economia e do emprego formal por todo o território baiano, especialmente no interior. O resultado do PIB do segundo semestre deste ano, por sua vez, apontou uma expansão de 1,56% na atividade econômica baiana em comparação com o mesmo período do ano passado. O cenário é positivo em alguns segmentos. A indústria teve um crescimento de 4,7% em julho, em relação ao mês anterior. Para 2015, acredito numa continuidade do crescimento da agricultura. Nas áreas de comércio e serviços, devemos ter uma redução do número de empregos, em função da sua taxa de crescimento um pouco menor. Mas é possível que o número de empregos gerados no consolidado fique muito próximo a 2014, pois o setor de construção civil deve voltar a ampliar as ofertas de trabalho com o avanço das obras de infraestrutura no país e com as obras do projeto Minha Casa, Minha Vida. A balança comercial deve ter um desempenho muito próximo a 2014 e a indústria deve ter um crescimento médio menor, diante da falta de recuperação de mercados externos, como o da Argentina.
José Sergio Gabrielli
Secretário do Planejamento da Bahia
Secretaria do Planejamento do Estado da Bahia (Seplan)
“A economia baiana, a despeito do bom momento que vive, tem uma relação estreita com a economia brasileira, dada a desaceleração desta, há um reflexo no cenário econômico regional. Para 2015, passada a incerteza com a eleição, espera-se que haja uma retomada do crescimento tanto do Brasil, quanto da Bahia, sendo que o estado, a meu ver, tem condições de reação mais rápida. Acredito que a economia baiana, que hoje já cresce mais que o país, vai passar por um ciclo de crescimento, por conta de dois pacotes de investimentos: um produtivo e outro de infraestrutura. No pacote de investimentos produtivos, ressalto a política de atração de investimento, com recursos previstos na ordem de R$ 70 bilhões nos próximos 5 anos, em projetos distribuídos na RMS e no interior do estado. São investimentos privados em mineração, energia eólica, química-petroquímica, indústria naval, automotiva, agronegócios, dentre outros. No campo da infraestrutura, os investimentos públicos em estradas, ferrovias, portos, mobilidade urbana, etc. vão impulsionar a competitividade sistêmica do estado, levando a Bahia a um crescimento sustentado por vários anos”.
Vitor Lopes
Presidente da Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.( Desenbahia)
Conselheiro do CORECON-BA
“O cenário econômico nacional tem sido bastante desfavorável e tudo aponta para um baixíssimo nível de crescimento do PIB no ano corrente (inferior a 1,0%), com destaque para o reduzido patamar de investimentos e da atividade industrial. A Bahia não escapa desse panorama. No entanto, acreditamos que nos próximos anos a atividade industrial no estado voltará a registrar melhor desempenho com a entrada em atividade de importantes empreendimentos e a sua natural maturação produtiva. Podemos citar como destaque: Petróleo e Petroquímica, a exemplo do Complexo Acrílico da Basf – investimento da ordem de R$ 1,2 bilhão – e da prevista planta de resinas estirênicas, numa parceria entra a Braskem e a Styrolution; Extração Mineral, a exemplo da Bamin(minério de ferro), em investimento de US$ 2,5 bilhões, e da Largo Resources (vanádio); Indústria Metal-Mecânica – naval e automotiva, como a EEP – Estaleiro Enseada do Paraguaçu – produção de sondas e navios para o pré-sal, em investimento de R$ 2,6 bilhões, e a JAC Motors – produção de 100.000 veículos/ano, em investimento de R$ 1 bilhão; e Energia Eólica, que por conta do grande potencial de geração, a Bahia conseguiu atrair, além de parques eólicos, investimentos industriais tais como: Alstom e Gamesa (aerogeradores), Acciona (cubos eólicos), Torrebrase Torres Eólicas do Nordeste(torres),e Tecsis (pás eólicas). Cabe destacar que, para almejar uma expansão sustentada em longo prazo, a Bahia precisa enfrentar seus problemas estruturais, sobretudo o da oferta e qualidade da infraestrutura logística. A solução para a questão passa pela atração da iniciativa privada, ampliando-se os recursos públicos destinados ao setor e viabilizando obras essenciais, a exemplo da modernização do Porto de Aratu, construção do Porto Sul, recuperação e duplicação das vias mais importantes da malha rodoviária, ampliação e modernização do Aeroporto Internacional de Salvador, a conclusão da FIOL – Ferrovia de Integração Oeste-Leste, além da construção das três novas linhas ferroviárias previstas no PIL – Programa de Investimento em Logística.
Ricardo Menezes Kawabe
Gerente de Estudos Técnicos da SDI
Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB)
“Ante um quadro de crescente interdependência no ambiente da economia mundializada é preciso distinguir um cenário induzido por movimentos da esfera internacional e tendências derivadas da atual estrutura produtiva. A economia baiana tornou-se objeto de investimentos internacionais, tanto em alta tecnologia como em projetos de tecnologia dominada, desde mineração a produção de soja e celulose, configurando novo perfil de economia primário-exportadora. Independente dos inconvenientes da condição de economia subordinada ao mercado dos compradores industrializados existe um problema concreto imediato em que a saída dos lucros gerados nesses empreendimentos representa uma frustração da formação de capital. Efeitos equivalentes acontecem no panorama do emprego em que os empreendimentos internacionais mencionados têm um efeito emprego baixo e decrescente. Assim, torna-se necessário um planejamento estadual voltado para favorecer os setores de formação local de capital e com maior efeito emprego. Nesse sentido será preciso apoiar empreendimentos da formação de capital no interior do estado aos quais facilitar soluções tecnológicas e de qualificação além de financiamento preferencial.
Fernando Pedrão
Professor de Economia da Unifacs
“O desempenho do PIB baiano, em muitos anos nas últimas quatro décadas, tem sido superior ao PIB médio brasileiro. Em consequência, a Bahia tornou-se a sexta economia do país, respondendo por cerca de 30% do PIB nordestino. Infelizmente, quando os indicadores sociais são examinados, o brilho desaparece. A Bahia continua bem abaixo da média nacional e a principal causa chama-se semiárido. O estado abriga em seu território a maior parcela do semiárido brasileiro. São 259 municípios dos 417 existentes, correspondendo a 69% da área estadual, muitos com grandes populações rurais. O semiárido se caracteriza pela pouca água de superfície, águas subterrâneas salobras, chuvas escassas e irregulares, e intensa evapotranspiração. Ou seja, características que dificultam bastante as atividades agropecuárias, predominantes em toda a região. Consequências: grande número de minifúndios; alta informalidade; ocupações precárias com baixa remuneração; baixo nível de urbanização; péssimos indicadores de saúde, educação e saneamento básico; e forte pressão sobre as demais cidades possuidoras de infraestrutura econômica e social. Buscar alternativas econômicas para a região não é tarefa fácil. Energia eólica, indústria extrativa, ferrovia cortando o semiárido e integrando o oeste do estado com o litoral são exemplos de empreendimentos que podem ajudar o semiárido e, em decorrência, a Bahia a tomar um novo rumo, reduzindo a terrível discrepância entre o econômico e o social que tem caracterizado o processo de crescimento econômico estadual.
Oswaldo Guerra
Professor da Faculdade de Economia da UFBA