Os desdobramentos da configuração política na economia brasileira estão na pauta de discussões em todo Brasil. Este tema também fomentou um oportuno debate, realizado em Reunião Extraordinária do Conselho do CORECON-BA, no mês de outubro. Convidado para abordar as perspectivas para o cenário econômico do país a curto e médio prazo, o professor da Universidade Federal da Bahia, economista Luiz Filgueiras explanou sobre o Atual Padrão de Desenvolvimento Brasileiro e os Regimes de Política Macroeconômica.
Para iniciar a explanação, o professor Luiz Filgueiras destacou a importância da análise dos elementos estruturais da macroeconomia que impõem limites para o desempenho de uma política econômica. “Não dá para discutir a conjuntura sem ter uma ideia dos elementos estruturais que estão dentro da economia e da sociedade brasileira. Esses elementos dão os limites de atuação dentro da conjuntura. Para não ter uma visão fragmentada, é preciso adotar uma visão analítica dos padrões de desenvolvimento e os regimes de política macroeconômica de cada período.
Segundo o especialista, dentro desta perspectiva, as duas orientações políticas que disputaram as eleições são semelhantes, ao passo que elas respeitam o mesmo padrão de desenvolvimento, configurado desde a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Este padrão é pautado no tripé macroeconômico: regime de metas de inflação, câmbio flutuante e superávits primários. “A diferença está na forma em que se operacionaliza esse tripé. O governo da Dilma tende a operacionalizar esse tripé de uma forma mais flexível, mas isso depende também da conjuntura internacional”, explica.
O desempenho da política econômica do país continuará sofrendo influência do cenário internacional. A dependência tecnológica e financeira do capitalismo brasileiro determina a forma de gestão do tripé que, por sua vez, vai impactar nos índices de desenvolvimento. “Com a situação internacional favorável, reduz a vulnerabilidade externa do Brasil e é possível folgar a balança comercial de pagamentos, possibilitando a flexibilização do tripé. Ou seja, diminuir a taxa de juros, o superávit fiscal primário e intervêm no câmbio para comprar dólar e fazer reservas”, explica o especialista ou resgatar o padrão adotado no governo de Lula.
Entretanto, acrescenta o economista, os resultados desta política só serão percebidos se o cenário internacional for favorável. “Dilma seguiu o mesmo padrão do governo de Lula, mas os resultados do seu padrão são mais sofríveis. Isso porque a conjuntura internacional piorou muito e quando isso acontece, reduz a possibilidade de fazer política de macroeconomia. Há uma restrição de crescimento que se for forçada, entra em crise cambial”, afirma, concluindo com uma análise crítica dos índices econômicos dos últimos três governos.
Participaram do encontro os membros efetivos do Conselho, economista Gustavo Casseb Pessoti, presidente do CORECON-BA, economista Virgílio Pacheco de Araújo, vice-presidente do CORECON-BA, os conselheiros e economistas Marcelo José dos Santos, Carlos Augusto Franco Magalhães, Luiz José Pimenta, Henrique César da Silva Gómez, Lívio Andrade Wanderley e o superintendente do CORECON-BA, economista Bruno Pires. Ao final da palestra, os integrantes da plenária externaram suas impressões em um oportuno debate sobre as perspectivas econômicas de curto prazo e os desafios do novo Governo.
“De modo geral, concluímos que a tarefa de Dilma será extremamente dificultada em função das pressões inflacionárias dos preços administrados (energia e combustíveis), do baixo crescimento econômico registrado em 2014, que traz como consequência uma diminuição na arrecadação tributária para 2015. Além disso, o cenário para a queda nas taxas de juros ainda não pode ser vislumbrado em função da inflação, resultando nas baixas perspectivas para uma retomada mais consistente dos investimentos produtivos e diminuindo a possibilidade de crescimento ainda maior no PIB do próximo ano”, conclui Gustavo Pessoti.