Apesar da desaceleração forte da economia, os acordos salariais fechados na primeira metade do ano mostraram desempenho melhor do que no mesmo intervalo do ano passado. De acordo com levantamento apresentado nesta quinta-feira pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre janeiro e junho 93,2% dos 340 acordos e convenções coletivas analisados tiveram aumento real acima da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), contra 83,5% no mesmo intervalo do ano passado.
O ganho real médio também foi superior, passando de 1,08% para 1,54% no primeiro semestre de 2014. Na série que começa em 2008, o percentual é menor apenas do que o apurado em 2012 (2,15%) e semelhante ao de 2010 (1,57%).
O coordenador de atendimento técnico sindical do Dieese, Airton dos Santos, afirmou durante a apresentação dos dados que o resultado foi uma “grata surpresa”. “Algumas leituras pessimistas do nível de atividade nos levavam a esperar reajustes menores”, disse. Para ele, o cenário composto pela pesquisa mostra que o mercado de trabalho continua aquecido e que o movimento sindical continua mobilizado, garantindo os aumentos reais.
A redução de mais de um ponto percentual na inflação média registrada no primeiro semestre de 2013 e deste ano também favoreceu o crescimento dos ganhos reais. A variação média do INPC acumulado em 12 meses desacelerou de 6,82% para 5,62% nos seis primeiros meses deste ano.
Na desagregação por setor, Santos chama atenção para a indústria, que registrou o maior percentual de acordos com reajuste abaixo do INPC, 4,5%. O comércio teve desempenho próximo da média geral, de 2,2%, e os serviços tiveram apenas 0,7% das correções abaixo da inflação.
O comércio teve o maior percentual de reajustes acima do índice, 95,7%. Nos serviços e na indústria, a abrangência foi de 92,8% e de 92,9%. Todos os oito ramos da indústria conseguiram aumentos reais médios superiores aos de 2013. As maiores altas se deram em fiação e tecelagem (de 0,56% para 1,31%) e em alimentação (de 0,8% para 1,46%).
Nos serviços, tanto as categorias de transportes quanto de turismo e hospitalidade apuraram ganhos reais acima de 2% – 2,3% e 2,07%, respectivamente. No primeiro caso, Santos lembrou as greves que aconteceram entre rodoviários de diversas capitais do país em abril e maio e, em relação ao turismo, aventou uma possível influência positiva da Copa d o Mundo como fator de pressão nas negociações.