Nos últimos anos, a grande massa de incentivos ao consumo provocou no indivíduo o árduo desejo de consumir sem limites, ultrapassando dessa forma sua linha do orçamento, criando um processo de endividamento e inadimplência crescente. Um dos incentivos ao consumo desenfreado provém do governo, que através do crédito fácil, baixas taxas de juros e dilatamento dos prazos para aquisição de determinados bens tem impulsionado as pessoas a consumirem desmedidamente.
A educação financeira tem sido de fundamental importância para a formação do indivíduo, como meio de evitar possíveis transtornos para sociedade, como por exemplo, a elevada taxa de inadimplência. Diante do problema o Governo Federal aprovou uma lei que entrou em vigor em 2012 na qual a educação financeira passa a ser parte integrante da grade curricular das escolas públicas, visando também o desenvolvimento do senso crítico dos alunos para a vida financeira. Segundo a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), as escolas públicas deverão incluir aulas de educação financeira no currículo básico. É o começo de uma caminhada rumo à erradicação do analfabetismo financeiro. O grande desafio agora será a capacitação dos professores.
A educação para uma vida financeira saudável nos países desenvolvidos tradicionalmente cabe às famílias. Às escolas fica reservada a função de reforçar a formação que o aluno adquire em casa. No Brasil, infelizmente, a educação financeira não é parte do universo educacional familiar. Tampouco escolar. Assim, a criança não aprende a lidar com dinheiro nem em casa, nem na escola. As consequências deste fato são determinantes para uma vida de oscilações econômicas, com graves repercussões tanto na vida do cidadão, quanto na do país. Segundo especialistas do Banco Mundial, encarregados de fazer a avaliação do impacto do projeto-piloto de ensino de educação financeira nas escolas brasileiras em 2011, “crianças e jovens que têm aula de educação financeira na escola melhoram significativamente a qualidade do seu ‘letramento financeiro’, tendem a pensar mais no futuro e aumentam a intenção de poupar.”
As próprias instituições financeiras, principal meio de injeção de recursos no mercado, já informam sobre a importância do consumo consciente, apresentando também formas de investir com responsabilidade, além das técnicas de evitar orçamentos deficitários. O medo do desconhecido mundo dos investimentos acaba por limitar a visão dos indivíduos com relação ao mercado de investimentos. A caderneta continua sendo a preferência da classe C, que segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), entre 2003 e 2009, cresceu 70%. A preferência pela velha e conhecida poupança decorre em grande parte da familiaridade do investimento.
Ainda segundo a SEI, são cerca de 2 milhões de baianos que subiram do segmento DE neste período, sem contar que o conjunto de habitantes da Bahia vivendo na miséria (classe E) caiu 40%. Outros 300 mil passaram para as classes A e B, cujo crescimento foi de 60% no mesmo período. Boa parte dessas pessoas está se informando mais, buscando investimentos mais adequados às suas expectativas, mas ainda não existe uma cultura de investir em renda variável no Brasil, como acontece nos EUA e países Europeus. Por conta disso, faz-se necessário reforçar a importância da presença da educação financeira na vida dos indivíduos, para começar a quebrar esse paradigma de que o mundo dos investimentos é fatal para suas economias.
Os brasileiros têm menos medo de gastar em produtos não-rentáveis do que em investir dinheiro em fundos de renda fixa, por exemplo. No artigo publicado em 23 de Dezembro de 2010 pela educadora financeira Silva Alembert ela afirma que devemos procurar conhecer o desconhecido, para sabermos avaliar os possíveis riscos que poderemos correr ao investir dinheiro em algum tipo de aplicação, ao invés de ficarmos estagnados ou fugindo do assunto. No Brasil o pensamento sempre foi mais focado no presente do que futuro, sempre fomos mais “cigarras” que “formigas”. Espero que ocorra uma transformação e logo passemos a ser “mais formigas”.
* Isaías Matos de Santana Júnior é Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Unifacs, Pós-Graduado em Metodologia do Ensino Superior pela Faculdade Integrada Euclides Fernandes, Master Business Administration – MBA em Finanças Empresariais pela Fundação Getúlio Vargas – RJ, Pós-Graduado em Administração de Empresa pela UFBA e Economista pela Universidade Católica do Salvador. Atualmente é Diretor Administrativo-financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), Professor de Economia, Professor de Pós-Graduação em Gestão Financeira, Elaborador e Analista de projetos de investimento de capital para captação de recursos junto ao Banco do Nordeste. Palestrante na área de Educação Financeira.