O processo de instalação de grandes indústrias gera interesse em qualquer região do mundo, principalmente quando o assunto é a indústria de transformação, que transforma matéria-prima e bens intermediários em produto final. Em tese, este tipo de indústria gera mais empregos e necessita de menos capital que a indústria de bens intermediários, produtora de insumos necessários para o funcionamento de outras indústrias. Indústrias de plásticos transformados, por exemplo, podem gerar, no mínimo, 40 vezes mais empregos do que seus pares na indústria de bens intermediários. O fascínio de governos, empresários, acadêmicos e população pela instalação das grandes indústrias não é novo e está centrado na expectativa de obter ganhos significativos, se possível, já no período de pré-instalação.
Em geral, a indústria de transformação é intensiva em mão de obra, na sua maioria pouco qualificada. Já a indústria intermediária é capital intensiva, baseada numa relação onde o capital é central e os postos de trabalho são rarefeitos e muito especializados. Normalmente, quando uma política pública objetivar gerar emprego e renda para a população pouco qualificada, a indústria de transformação é uma boa alternativa. Se a finalidade for gerar uma indústria estratégica, que facilite a instalação de outras indústrias à frente na cadeia produtiva e que seja intensivamente empregadora de mão de obra qualificada, a indústria intermediária é um caminho natural. Para o desenvolvimento e autonomia de uma região, não se pode optar por somente uma delas: a combinação das duas é o melhor dos mundos.
A Bahia tem uma população significativa, de baixa renda e concentrada na Região Metropolitana de Salvador (RMS). A RMS faz escola quando o assunto é emprego informal, salários baixos e altas taxas de desemprego. A boa notícia é que a indústria continua sendo uma grande solução para esses enfrentar esses desafios, pois gera empregos formais, diretos e indiretos, além de salários e benefícios bem maiores que os demais setores da economia.
A indústria automobilística é um exemplo de indústria de bens finais, possuindo uma cadeia produtiva extensa, dinâmica e complexa, mas é, ao mesmo tempo, capital intensiva na base. A academia aponta que as expectativas que ainda não foram totalmente atendidas com a instalação da Ford na Bahia também não serão materializadas com a anunciada instalação da unidade local da Jac Motors. Seria necessário instalar pelo menos uma terceira montadora no Estado para gerar os efeitos desejados.
Algumas montadoras “tiraram o pé do acelerador” da instalação no Brasil após a alteração do IPI pelo governo federal em 2011. A BMW é um exemplo, face à indefinição junto ao Governo Federal e aos Estados de Santa Catarina e São Paulo. A solução pode ser “corrermos por fora” nesse e em outros casos, para atrair investimentos para o estado, como ocorrido no período de indefinição da implantação da própria Ford no Rio Grande do Sul, no limiar dos anos 2000, que culminou na sua instalação em Camaçari. Indústria é fundamental!
André Coelho é Economista (UFBA), Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano (UNIFACS), MBA em Gestão de Projetos (FGV) e Doutorando em Desenvolvimento Regional e Urbano (UNIFACS).