Além de frustrar foliões, o cancelamento do carnaval, pela terceira vez consecutiva no estado desanima as projeções do turismo na Bahia em 2022. De acordo com o economista, presidente do Conselho Regional de Economia da Bahia, Gustavo Pessoti, outros aspectos como o acesso à crédito mais restrito, o endividamento das famílias e a elevação dos custos de serviços também refletem na expectativa de baixo desempenho do setor do turístico.
“Crédito mais escasso, renda média menor, passagens aéreas mais caras, assim como deve ser observado em todos os itens de consumo das famílias brasileiras, menor ritmo no mercado de trabalho e estimativa de baixo dinamismo para a economia brasileira (alguns bancos estimam até uma taxa negativa de 0,5% para o PIB brasileiro), vão reverberar decisivamente nas projeções de incremento da atividade turística no estado da Bahia em 2022”, analisa o economista Gustavo Pessoti.
De acordo com Pessoti, embora inexistam pesquisas atualizadas sobre o tema, um estudo realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em 2021, estimou que a ausência da maior festa baiana representa uma considerável perda de receitas em função do impacto de toda a cadeia de negócios do carnaval. “São quase 1 milhão e 200 mil pessoas entre turistas (que em 2021 somavam pouco mais de 635 mil) e os residentes de Salvador. Tomando como referência o gasto médio diário de turistas e residentes e o número médio de dias brincados pode-se fazer uma inferência de aproximadamente R$ 1,8 bilhão de reais em perdas pela não realização do carnaval de Salvador em 2021”, avalia, considerando os dados da pesquisa.
Tomando como referência o recrudescimento da Covid, o encarecimento dos produtos típicos do carnaval é possível considerar uma perda nesse valor de referência na comparação entre a estimativa realizada pela SEI em 2021 e um esforço de atualização da projeção dos valores de referência de gastos e número de turistas. Mas, mesmo assim, pode-se fazer a inferência estatística (até mesmo pela alta dos valores que são negociados para a festa) que a perda de receitas pela não realização do carnaval em 2022 gravite em torno de R$ 1,5 e R$ 2 bilhões.
Além disso, o impacto negativo do cancelamento da festa interfere no trabalho temporário gerado diretamente e indiretamente pelo carnaval. Em números de 2021, o referido estudo tomado como referência de análise estimou que 100 mil empregos deixaram de ser gerados (nas duas categorias mencionadas) em função da não realização do carnaval, número esse, que por inferência deveria ser o mesmo observado em 2022.
Segundo as informações do boletim semanal de conjuntura da SEI (fevereiro), o índice das atividades turísticas do Brasil, em dezembro de 2021, era 11,4% inferior ao registrado em fevereiro de 2020. Apesar da recuperação vivenciada pelo setor ao longo de 2021, a estimativa feita pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) aponta que o turismo nacional deixou de faturar R$ 214 bilhões em 2021 em função da pandemia. E o pior é que as estimativas feitas pela CNC indicam uma taxa bem modesta para o crescimento desta atividade no Brasil em 2022, de apenas 1,7%.