O dinheiro e os seus (des)caminhos para uma vida sem endividamento
Por Edval Landulfo
Economista e Educador Financeiro
De todas as invenções humanas o dinheiro parece ser a mais fascinante, não pelo objeto em si, mas pelo o que representa. Imagine, por um minuto, as nossas vidas, nos dias de hoje, sem o dinheiro. Somente seria possível realizar uma transação comercial através do escambo. Entretanto, essa troca dependeria da coincidência de desejos entre duas pessoas para a sua concretização. Desse modo, a criação do dinheiro não só resolveu esse problema, através da simplificação na intermediação das trocas, já que esse é transferível e adiável, como também contribuiu para a expansão do comércio e o acúmulo de riquezas.
Os antigos filósofos gregos foram os primeiros a retratar esses assuntos comerciais (compra e venda de bens), observando o funcionamento desse sistema que passou a ser chamado de economia. A palavra Economia vem do grego Oikos (casa) nomos (norma,lei), portanto oikonomia significa a administração de uma casa ou administração da coisa pública/estado. Destaco Platão e o seu discípulo Aristóteles que viam a economia como uma questão de filosofia moral, estudando-a como deveria funcionar o sistema econômico ao invés de como esse funcionava.
Ao longo dos tempos, surgiram novos estudos e teorias sobre a economia e o seu funcionamento, gerando novas oportunidades de negócios, possibilitando o crescimento e o desenvolvimento das nações (sociedade). Na atualidade, faz-se necessária uma nova definição para uma melhor compreensão sobre o estudo dessa ciência. De acordo com o economista Paul Samuelson, no ensaio Uma introdução à análise econômica, publicado em 1948, “a economia é o estudo de como as pessoas decidem empregar recursos escassos, que poderiam ter utilizações alternativas, para produzir bens variados e para os distribuírem para consumo, agora ou no futuro, entre as várias pessoas ou grupos da sociedade.”
Apesar dos temas ‘economia e crise financeira’ se tornarem o centro de conversas entre amigos, em especial, quando vivenciamos momentos de estagnação econômica, poucos brasileiros têm, de fato, consciência de que o funcionamento da economia nacional ou mundial afeta a vida financeira das famílias. Falta, portanto, educação financeira.
Segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2005, educação financeira “é o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos e produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação, possam desenvolver os valores e as competências necessários para se tornarem mais conscientes das oportunidades e riscos neles envolvidos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas, saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de modo mais consistente para a formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro“.
Portanto, mesmo que o indivíduo tenha uma boa renda (nunca será o bastante) se não houver controle sobre as finanças pessoais, viverá sempre comprometido, ou pior, endividado. Uma vez que os recursos são limitados enquanto os nossos desejos são ilimitados. Nos dias de hoje, por exemplo, com a diversidade de produtos e serviços disponíveis no mercado, é normal que muitas pessoas queiram adquiri-los, sem levarem em consideração o quanto de dinheiro e/ou crédito elas disponibilizarão.
Por falar em crédito, a palavra vem do latim ‘creditu’ e significa a confiança que se tem em algo. Em finanças, o crédito formaliza a confiança de quem empresta o dinheiro, o qual, ao final de um período, receberá de volta a quantia acrescida de juros, que por sinal é a remuneração cobrada do dinheiro emprestado, uma espécie de “aluguel” sobre a quantia solicitada. Em suma, toda vez que uma pessoa realiza uma compra via cartão de crédito ou qualquer outra modalidade de pagamento a prazo, estará, posteriormente, remunerando quem alugou o dinheiro. “Não existe almoço grátis”.
A nossa relação atual com o dinheiro vai muito além de um mero meio de troca, transformou-se no objeto em si, causando sérios problemas comportamentais para quem o persegue “inconscientemente”, seja para acumulação ou para a realização de uma compra (des)necessária. O consumo de bons produtos ou serviços faz bem para o corpo e porque não, também, para a alma. Entretanto, precisa ter uma relação verdadeira para quem consome e não apenas para satisfazer os anseios dos outros. Pois, é comum para muitos indivíduos, a necessidade de impressionar os colegas com uma compra de um bem caro e exclusivo. Nesse caso, a satisfação não advém da aquisição do bem/serviço, mas do impacto que pode vir a causar nas pessoas ao redor.
É bem verdade que a maioria da população, diria, com um largo sorriso no rosto, que não há nenhum mal associar a riqueza ao bem-estar. Mas é preciso termos em mente que o equilíbrio comportamental financeiro deve ser individual e não deve sofrer nenhuma interferência externa. O dinheiro deve assumir o seu verdadeiro lugar que é um simples meio de pagamento para proporcionar prazeres pessoais.
A educação financeira e a economia andam de mãos dadas, mas, infelizmente, em nossa sociedade brasileira sempre foram mantidas no distanciamento, prejudicando o crescimento econômico que tanto almejamos. Enfim, os indivíduos precisam se comprometer com as suas finanças pessoais, as empresas precisam se responsabilizar com uma boa gestão financeira e social e o Estado deve gerir os recursos de forma sustentável e eficiente. O futuro do Brasil depende do caminho que iremos percorrer com e para o nosso dinheiro. Já temos uma moeda estável, contudo precisaremos difundir o conhecimento financeiro para aprendermos a gastarmos melhor o dinheiro conquistado.
Educação Financeira é com a Landulfo Finanças !!!!!