Por Gustavo Casseb Pessoti
Diretor de Indicadores e Estatísticas da SEI
Conselheiro do Corecon-BA
As previsões para economia global são de crescimento do PIB em 2019 e 2020, respectivamente, com taxas de 3,5% e 3,6%, segundo o último relatório do FMI de janeiro de 2019. Apesar das previsões positivas para a economia mundial, a expansão global está desacelerando, refletindo, o enfraquecimento da economia europeia, explicado pela redução das exportações, pela piora nas condições financeiras na Itália, pelas alterações na regulação do setor automobilístico na Alemanha, pela questão não resolvida do Reino Unido, entre outros fatores políticos. Positivamente, há sinalização de manutenção das taxas de juros nos EUA por um tempo prolongado. Na América do Sul, a economia da Argentina continua com graves desequilíbrios na demanda doméstica, que devem impactar os fluxos comerciais com o Brasil. A provável desaceleração global pode se traduzir em impactos negativos nos termos de troca, inclusive para o mercado de commodities brasileiro, piorando a situação das contas públicas e, consequentemente, em um menor crescimento da taxa do PIB nacional.
No âmbito nacional, a inflação manteve-se em patamares baixos e dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, beneficiada pela queda nos preços das commodities agrícolas e o recuo dos preços administrados, sobretudo de energia e gasolina. O IPCA registrou taxa acumulada em 2018 de 3,75% e a taxa SELIC está em 6,5% desde a reunião do Copom em março daquele ano. Por outro lado, outros indicadores de atividade econômica nacional apresentaram crescimento abaixo das expectativas. A produção industrial registrou aumento de 1,1% no ano, inferior à taxa de 2,5% observada em 2017, indicando perda de ritmo no crescimento da produção. O comércio varejista ampliado apresentou uma elevação de 5,0% no mesmo período, impulsionado pela ampliação nas vendas de Veículos, motos e peças que registrou taxa de 15,1% entre janeiro e dezembro de 2018. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego no país recuou de 11,9% no terceiro trimestre para 11,6% no quarto trimestre de 2018, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE. O saldo de empregos formais foi de 529.554 postos de trabalho no ano. E o PIB nacional registrou crescimento de 1,1%, taxa essa que foi exatamente igual a registrada em 2017, fazendo com que o nível de produção em 2018 se equiparasse ao registrado para o país no ano de 2012. O desempenho da economia aquém das expectativas do início do ano, em que se esperava um crescimento de 3,0%, foi determinado, principalmente, pela greve dos caminhoneiros em maio, que trouxe consequências negativas para diferentes cadeias produtivas, com efeitos sobre a produção, consumo e preços. Nesse sentido, cabe destacar também a crise econômica da Argentina, o avanço da taxa de câmbio entre agosto e setembro e a incerteza política e eleitoral que se intensificou ao longo do ano de 2018.
Para 2019, as expectativas do mercado financeiro para o PIB do Brasil são de aumento de 2,28%, segundo o Boletim Focus, divulgado em 08 de março do corrente ano. Em 28 de dezembro de 2018 essa taxa estava projetada em 2,55% e para outras consultorias do mercado nacional, as expectativas de desempenho econômico já estão gravitando em números próximos a casa dos 2% anuais. A taxa de inflação esperada é de 3,87%, dentro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional. As expectativas do mercado indicam arrefecimento da atividade nos primeiros 60 dias do ano. Ainda, segundo o Boletim Focus, a taxa Selic deverá manter-se em 6,5% em 2019. Patamar favorável ao financiamento de despesas de consumo e investimento, desde que associada à melhora na confiança dos agentes. A confiança da indústria apresentou avanço no mês de fevereiro, mas não conseguiu recuperar os níveis obtidos no primeiro semestre de 2018. Também, após quatro meses de alta, a confiança do consumidor acomodou em fevereiro, influenciada por uma reavaliação das expectativas, que estavam otimistas após as eleições. Diante disso as previsões para o consumo e investimento devem ser mais modestas, pelo menos no primeiro semestre de 2019.
O Produto Interno Bruto da Bahia, divulgado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), apresentou decréscimo no quarto trimestre de 2018, com taxa de -0,1% em relação ao quarto trimestre de 2017. No terceiro trimestre a taxa de crescimento havia sido de 0,5%. No acumulado do ano, janeiro a dezembro de 2018, o PIB da Bahia aumentou 1,1%, acompanhando a mesma intensidade do PIB nacional, algo que não acontecia desde o ano de 2008. A Agropecuária contribuiu significativamente para esse resultado, com taxa de 12,5% e o setor Serviços também registrou incremento na atividade em 0,9%, enquanto a Indústria registrou queda de 0,2%. Dentro do setor industrial, a maior queda verificada foi na atividade Mineral (-4,7%), acompanhada pela Construção Civil (-3,7%) e pela Transformação (-0,4%). A única atividade a registrar alta no ano foi produção e distribuição de energia, gás e água (10,2%).
O mercado de trabalho formal da Bahia acumulou saldo de 28.621 postos de trabalho em 2018. Todos os setores de atividade registraram saldos positivos. Apesar dessa geração de postos formais, a taxa de desocupação divulgada pela PNAD contínua do IBGE avançou de 16,2% para 17,4%, entre o terceiro e o quarto trimestre de 2018. A pesquisa também mostra a trajetória da massa de rendimentos reais que registrou aumento de 4,1% no primeiro trimestre de 2018, no trimestre seguinte o crescimento foi de apenas 0,8%, no terceiro trimestre ocorreu expansão de 9,3% e no quarto trimestre observou-se recuo de 2,3%. O crescimento do PIB baiano em 1,1%, embora pequeno frente às necessidades do estado, contribuiu para essa retomada do mercado de trabalho.
Na Bahia, as expectativas para 2019 estão condicionadas a retomada mais forte de crescimento da Indústria. Presume-se que a produção industrial seja impulsionada pelo aumento da demanda interna que deve se beneficiar dos melhores níveis de confiança, da elevação do nível de emprego e da renda. Outros fatores devem contribuir para o desempenho do setor: elevada capacidade ociosa, juros baixos e grande demanda por infraestrutura. As expectativas para a indústria de transformação devem ser melhores, em função da base de comparação, mas, para tanto será importante aguardar os desdobramentos em torno da possível venda da Brasken e do fechamento definitivo da Fafen. A indústria automotiva da Bahia é outra que gera expectativa de compasso de espera, motivada não só pela alta elevação de produção que já aconteceu em 2018 (aproximadamente 8%), mas também pela possibilidade de diminuição nas vendas externas para México e Argentina, grande compradoras dos carros fabricados pelo parque industrial do estado. Mas, apesar de uma expectativa de retomada para a indústria, o setor da construção civil é o que continua com projeções um pouco mais pessimistas, principalmente em função da diminuição da construção privada e dos lançamentos imobiliários. O ano de 2018 completou o 5 período consecutivo de retração na atividade.
As perspectivas para os setores de Comércio e Serviços dependem do aumento da renda agrícola e industrial, associadas à manutenção da inflação dentro da meta e de taxa de juros mais baixa. Há expectativas de que a retração na taxa de juros e a redução no custo do crédito favoreçam ao financiamento para aquisição de bens duráveis, como automóveis e eletrodomésticos, mas esse aumento do consumo será limitado pelo grau de endividamento das famílias. Mas, não há grandes expectativas de aumentos reais de salários em muitas categorias e os acordos já sinalizam a possibilidade de reajuste próximo a 0%, incluindo os servidores públicos estaduais. O salário mínimo em 2019 cresceu menos que as expectativas anteriores ao período eleitoral. Assim o setor de serviços vai depender também de uma retomada no mercado de trabalho, ainda mais consistente que as registradas em 2018 e da manutenção da massa de rendimentos das famílias baianas, algo que deve ser um pouco mais difícil de acontecer.
A contribuição da Agropecuária, após dois anos de fortes incrementos (2017 e 2018) deverá apresentar uma reversão e manter-se negativa, durante todos os trimestres do ano de 2019. A primeira estimativa realizada pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA do IBGE já aponta, em março do corrente ano, uma forte retração nas principais safras, da ordem de 14% (a queda da produção de soja atingiu 20% no primeiro trimestre de 2019). A forte estiagem no início do ano prejudicou a lavoura, em especial, dos principais grãos: soja, algodão e milho e também a produção pecuária. Além disso, a elevada base de comparação dos dois anos anteriores criam expectativas menores em relação ao volume a ser colhido na safra de 2019. Por isso devemos esperar menor participação no PIB e na geração de empregos derivada da produção agropecuária da Bahia.
A recuperação da confiança pelos agentes econômicos e a continuidade de investimentos públicos são determinantes para o desenvolvimento da economia baiana nos próximos anos. Os investimentos públicos, privados ou Parcerias Público Privadas (PPP) ou concessões públicas são imprescindíveis para alavancar os projetos de mobilidade urbana, infraestrutura de logística, energia, comunicação e construção civil. Esses setores são capazes de dinamizar a economia baiana e criar um ambiente promissor para atração de novos empreendimentos e consolidação das atividades já existentes, com aumento da competitividade e ganhos de produtividade da economia.
Nesse sentido, a retomada das operações do Estaleiro Enseada em São Roque do Paraguaçu pode criar novo alento para a efetivação de investimentos, geração de emprego e aumento da dinâmica econômica na região do recôncavo baiano. Se confirmada a possibilidade de construção de 4 navios de guerra para a Marinha brasileira, essa retomada na atividade naval seria responsável por um investimento de aproximadamente R$ 6 bilhões e cerca de 2 mil empregos, reativando um empreendimento com capacidade de gerar uma nova dinâmica para a economia baiana.
O cenário para 2019 ainda é incerto, mesmo decorridos quase três meses do ano. O principal desafio do novo governo é a grave situação fiscal do país. O crescimento mais forte da atividade econômica está condicionado à retomada dos investimentos públicos e privados principalmente em infraestrutura, que por hora estão em segundo plano até que o governo consiga aprovar a reforma da previdência e o chamado “novo pacto federativo”. O equilíbrio nas contas públicas em busca de solidez fiscal é também o grande desafio para os estados e municípios do país. Na política monetária, o sentimento com o novo governo é de continuidade na estratégia em curso nos últimos dois anos, principalmente em função da convergência da inflação à meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.
Todavia deve-se estar atento às recentes movimentações na economia mundial que podem se tornar obstáculos para o cenário no curto/médio prazo. Neste ponto, ressalta-se o risco da desaceleração global; as dificuldades da economia da Argentina, que provavelmente irá exercer forte efeito sobre as exportações baianas, principalmente de automóveis; e questões de natureza geopolítica, como o Brexit, as sanções contra o Irã, o conflito entre Itália e Comissão Europeia em torno do desequilíbrio fiscal naquele país e o risco de acirramento da guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo (EUA e China).
Considerando-se o cenário exposto bem como as explicações e expectativas mencionadas nesse breve artigo, as primeiras estimativas relacionadas ao desempenho econômico da Bahia apontam para um crescimento que novamente deverá acompanhar a tendência do PIB brasileiro, no entanto, com projeção ligeiramente inferior à realizada pelo Boletim Focus, do Banco Central. Em face da já esperada quebra de safra e a uma recuperação lenta e gradual do setor industrial da Bahia, a primeira projeção realizada pela equipe técnica de conjuntura econômica da SEI é a de um crescimento de 1,8% para a economia baiana em 2019.
Confira o PDF do artigo: Cenários para a economia baiana em 2019