Um triste cenário na cidade da manga e do maracujá
Situada a aproximadamente 600 km de Salvador, Livramento de Nossa Senhora mostra-se como um dos expoentes agrícolas do estado da Bahia. Figura entre os maiores produtores de manga e maracujá de todo o país e é também, porta de entrada da Chapada Diamantina, sendo detentora de belas paisagens naturais, entre elas está a linda cachoeira conhecida como “Véu de Noiva”.
A produção agrícola fortaleceu a economia da cidade e fez prosperar o comércio, sendo hoje uma de suas grandes forças econômicas. Tornou-se um polo regional, com oferta de serviços de referência, merecendo destaque atualmente para os serviços na área de saúde.
No final dos anos 80, o então presidente José Sarney visitava a cidade para inauguração da Barragem Luiz Vieira (localizada a aproximadamente 9 km de distância, no município de Rio de Contas) e do Perímetro Irrigado do Brumado que seria abastecido pela barragem.
Desde então, o perímetro passou a funcionar sem ter 100% das obras concluídas, operando na maior parte de sua extensão com irrigação através de “regos”, gerando um desperdício em torno de 70% do total de água destinada a plantação.
Poucos foram os investimentos ao longo destes anos no perímetro irrigado e a bonança das chuvas “maquiou” uma triste realidade. Mas agora os tempos são outros. A chuva é raridade e a longa estiagem que há muito tempo castiga o sertanejo, agora atinge “em cheio” o oásis em meio ao sertão, que representava o Perímetro Irrigado do Brumado.
Mesmo sem conseguir medir em números, relatos dão conta da queda na receita do comércio local, que vem perdendo força e já se pode circular com tranquilidade na feira livre que ocorre semanalmente aos sábados.
As mangueiras começaram a morrer com a falta d’água e a produção do ano de 2013 já está sacrificada. Produtores que gastaram na construção de barramentos e barragens quando a seca dava os primeiros sinais acreditando na vinda da chuva, agora tentam em vão perfurar poços artesianos quase sempre secos ou com baixa vazão de água e até mesmo, utilizam-se de carros pipas como último suspiro. Como são poucos os locais para captação da água, o “pinicão” (estação de esgoto) se tornou uma das alternativas.
Apenas uma pequena parcela das plantações de maracujá foi refeita, agravando ainda mais, haja vista que se perde um dos fatores primordiais na distribuição de renda, pois uma grande parcela da produção era oriunda da agricultura familiar.
E não para por aí. Os centenários “regos” e os detentores dessas “horas de água”, que inicialmente não seriam afetados, passaram a conviver com o racionamento, devido a prioridade que é dada para a garantia do consumo humano.
O cenário que se desenha é ainda mais desolador. Poucos são os produtores que serão capazes de refazer o plantio das mangueiras, abrindo as portas para empresários de outros municípios se instalarem em nossas terras e futuramente levarem consigo riquezas geradas em nosso município.
Os que estão capitalizados para superar este momento ou possuem outra fonte de renda, terão ainda que aguardar a Barragem Luiz Vieira atingir um nível que garanta segurança para que a água possa ser liberada normalmente e por volta de 4 a 5 anos até que as plantas estejam em condições de produzir.
Aguardarão também, investimentos por parte do poder público para que haja um uso sustentável da água, deixando os “regos” na história e distribuindo a água por um sistema pressurizado, evitando assim os desperdícios.
Necessita-se ainda, aproveitar o excedente das águas nos períodos chuvosos. Uma das alternativas já fora apresentada, através de um barramento ao longo do Rio Brumado e do bombeamento deste excedente para Barragem do Riacho do Paulo, com o intuito de abastecer os produtores da vizinha Dom Basílio. Esta obra evitaria a liberação de grandes volumes de água da Barragem Luiz Vieira, que vinham sendo utilizados para suprir esta demanda.
A área plantada expandiu-se desgovernadamente e deverá passar por um rígido controle, já que o perímetro abrange hoje uma extensão bem superior do qual foi projetado.
Caso as chuvas não apareçam em curto prazo, Livramento de Nossa Senhora deixará de ser uma cidade economicamente pujante (quando comparada a realidade dos municípios de pequeno porte do sertão baiano) e enfrentará uma grave crise por pelo menos 5 anos. Os índices de desemprego formais e informais que já preocupam, crescerão assustadoramente e a economia terá em seus pilares as receitas geradas pelos aposentados, funcionalismo público e beneficiários do Programa Bolsa Família.
*Roberto Lucas Spínola Souto é livramentense e graduando em Ciências Econômicas pela Universidade Salvador – UNIFACS.