O ano de 2016, certamente, não deixou saudade para os baianos. Segundo informações da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), a queda na taxa do Produto Interno Bruto (PIB) chegou a 4,5%. Índice maior, portanto, que a queda registrada na atividade brasileira (os cálculos do Banco Central projetaram uma queda de 3,8%) e se transformou no pior resultado para o crescimento do PIB da Bahia, desde que a série de cálculo passou a ser sistematizada pela SEI em 2002.
Esse resultado evidenciou uma forte desaceleração da economia baiana, que já havia se retraído em 3,3% no ano de 2015, e teve na queda da agropecuária (-20%) o fator principal para o descolamento em relação à taxa registrada para o país. Como resultado desse processo de desaquecimento econômico, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), foram eliminados, aproximadamente, 68 mil postos de trabalho formal em 2016 na Bahia (saldo entre admitidos – demitidos).
Os efeitos na conjuntura de 2017 precisarão levar em consideração que, qualquer que seja o resultado final, a baixa base de comparação, com dois anos de forte retração, deverá impactar na dinâmica econômica e na retomada do crescimento. Ou seja, com uma base de comparação bastante deprimida e, levando em consideração que as chuvas de outubro, novembro e dezembro de 2016 foram boas para o agronegócio baiano, as expectativas são de que, já em 2017, o PIB baiano apresente uma leve taxa positiva (entre 0,5% e 1,0%). Isso representa, portanto, uma considerável melhora em relação aos anos de 2015 e 2016.
Tendo em vista a significativa retração da atividade agropecuária em 2016, a contribuição do setor para o crescimento do ano deverá voltar a ser positiva. O retorno das chuvas, no período de plantação de lavouras como soja, algodão, milho e feijão, em importantes regiões produtoras do estado, justifica as perspectivas favoráveis para a safra 2017. As primeiras estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) apontam para uma taxa de crescimento em torno de 45% da produção baiana de grãos na safra desse ano. A recuperação da pecuária, por sua vez, deverá ser mais lenta, em razão da enorme perda de planteis durante a longa estiagem.
Algumas mudanças na condução da política macroeconômica do governo federal poderão, em sentido complementar, ser positivas para a retomada do crescimento do PIB brasileiro e das unidades da federação que, como a Bahia, têm uma lógica econômica muito fundamentada no comércio por vias internas do país. Nesse sentido, merece destaque a renegociação da dívida dos estados, para aliviar a situação fiscal do país num momento de baixa arrecadação, mas, sobretudo, os cortes na taxa de juros básica da economia, uma vez que a inflação convergiu para a meta em 2016 e deverá estar cada vez mais próxima do centro da meta em 2017. A queda na taxa de juros, bem como a flexibilização do crédito serão fundamentais para, em um novo ano, com inflação mais baixa, permitir a retomada do setor de serviços, que é o mais importante tanto na geração de empregos como na participação do PIB nacional e baiano.
Ainda assim, pode demorar um pouco mais de tempo para se reverter a tendência declinante no mercado de trabalho baiano, sem a qual se compromete completamente o desempenho do setor de serviços, que é bastante elástico em relação a emprego e renda. Ademais, considerando a perda de poder aquisitivo da chamada classe média baiana – que teve queda real no poder de compra, segundo os dados da PNAD contínua do IBGE, entre 2015 e 2016 -, a retomada para o crescimento das vendas no comércio e reativação de serviços prestados às famílias deverão demorar mais um pouco. Isto é, lembrando-se do argumento que usamos no início do texto, a taxa de crescimento nas vendas do varejo baiano, se acontecer em 2017, deverá estar mais relacionada com a base deprimida das informações do que verdadeiramente com uma retomada na atividade.
Não há perspectivas de reajuste salarial para muitas categorias, incluindo os funcionários públicos (administração pública representa 25% do PIB da Bahia) e mesmo trabalhadores do setor privado não estão conseguindo, já há algum tempo, negociações de ganho real. Além disso, o salário mínimo para 2017 subiu menos que o previsto, já em tempos de vigor da PEC do teto dos gastos. Sem elevação no poder de compra, com taxas de juros ainda muito elevadas (a despeito da queda consecutiva ao longo dos últimos meses na taxa SELIC), com elevadas demissões no mercado formal de trabalho, que só deverão diminuir no último quadrimestre de 2017, as expectativas para o setor de serviços da Bahia são as mesmas dos dois anos anteriores, talvez um pouco melhores em função de expectativas do início de recuperação por parte da economia brasileira.
Na indústria, a perspectiva de fraca atividade ainda persiste, tendo como pano de fundo a retração da demanda interna, juros elevados, deterioração das condições do mercado de trabalho e restrições no mercado externo. Esse cenário sinaliza para o desempenho de lenta recuperação, a despeito da baixa base de comparação. Destaca-se que mesmo uma taxa de câmbio mais desvalorizada não parece ser suficiente para reverter esse cenário, haja vista que a situação dos principais parceiros comerciais da Bahia inspira algumas preocupações, como por exemplo, as medidas protecionistas que podem ser adotadas pelo governo americano. É bom lembrar também que a China, outro grande parceiro comercial da Bahia, tem apresentado diminuições nas encomendas, em função da redução do ritmo de seu crescimento interno. O principal fator a compensar esse cenário da indústria baiana está na atração de investimentos, que poderá influenciar o desempenho de setores importantes, a exemplo da indústria petroquímica que pretende mudar a matéria-prima básica de nafta para etano e o setor eólico que se encontra em franca expansão.
Mesmo assim, as projeções iniciais que podemos fazer, ainda sem nenhuma informação das pesquisas do IBGE para o ano de 2017, são de um resultado baixo e ainda negativo para o setor industrial como um todo (-1,0%), incluso nesse arranjo a geração de energia elétrica ainda comprometida pela seca na Usina de Sobradinho e também a construção civil que deverá continuar com sua trajetória declinante (exceção feita à construção pública, que deve continuar aquecida em função das obras de mobilidade urbana e infraestrutura que vêm sendo anunciadas pelo governo do estado).
Por fim, é importante destacar que a economia global continua presa na “armadilha do baixo crescimento”, deprimindo o comércio, os investimentos, a produtividade e os já fracos salários. As transações comerciais globais cresceram apenas 1,7% em 2016, bem abaixo da projeção de 2,8% estimado em meados do ano passado pela OMC – Organização Mundial do Comércio. Trata-se da menor expansão do comércio e da produção mundial desde a crise financeira global de 2009. No momento atual, portanto, não se deve apostar muito na expansão comercial global no curto e médio prazo para recuperar a economia brasileira. Mesmo com um câmbio mais competitivo, a tendência de 2017 deverá ser parecida com a registrada em 2016. Apenas como fator ilustrativo dessa situação, segundo os dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, as exportações da Bahia em 2016 atingiram, em 2016, o mesmo montante registrado em 10 anos antes, em 2006 (U$ 6,8 bilhões), face à diminuição nas transações externas do estado que vem acontecendo desde o ano de 2015.
Algumas apostas positivas ainda se apoiam nos investimentos em mobilidade urbana no estado, além do projeto de concessões do Governo Federal. Residem nesses investimentos, as expectativas que podem criar circunstâncias favoráveis a uma retomada mais consistente daqui pra frente. É importante pensar em 2017, como um ano “menos pior” do que foi 2016, sobretudo, se conseguirmos um pouco mais de estabilidade política e macroeconômica. Ainda assim, as consequências da recessão vivenciada em 2015 e 2016 também devem afetar negativamente as expectativas dos agentes para o ano vigente. Não há como retomar o investimento industrial se há excesso de capacidade ociosa que ainda pode ser reativado. Esse item, em particular, tem ficado bastante evidenciado nas pesquisas de confiança realizadas pela SEI, no que diz respeito à retomada ao longo dos próximos doze meses. Os empresários estão na zona de pessimismo moderado, quando o assunto se refere à ampliação dos investimentos ao longo dos próximos meses e não pretendem fazer novos investimentos, pelo menos no curto prazo.
Certo mesmo é que antes de melhorar, as coisas precisam parar de piorar. Acreditamos que 2017 pode, a depender das condições políticas (nacionais e internacionais) e macroeconômicas internas, ser um ano com algum alento, mas sem grandes pretensões para uma retomada. Estamos revivendo um ciclo de baixa na economia brasileira, com reverberações econômicas para todas as unidades da federação. A Bahia não é uma ilha (embora seja bela) que fique imune às condicionantes recessivas do atual momento. Mas, é importante retomar o planejamento de ações que fortaleçam a sua matriz produtiva, do contrário essa perda de dinamismo econômico poderá ser ainda maior do que estamos pensando.