O setor imobiliário exige extrema cautela dos construtores e incorporadores, ao executar novos empreendimentos e projetos, e dos consumidores e investidores, ao comprar o imóvel para morar, alugar e/ou revender. Afinal, para os próximos quatro anos, há perspectivas negativas. O panorama inclui pressão de custos de produção e aumento do preço de terrenos, serviços de mão de obra, materiais e insumos.
O aumento significativo da relação inflação do metro quadrado e inflação dos salários dos trabalhadores diminuiu muito o poder de compra de imóveis pela parcial dos salários, ou seja, o trabalhador tem que trabalhar mais meses para comprar o mesmo metro quadrado e o papel do crédito para o setor tem forte correlação nesta aquisição.
Também houve ampliação do endividamento das famílias com o sistema financeiro. A consequência é o aumento do comprometimento de parte da renda para honrar compromissos contraídos no passado recente, o que desacelera o consumo de produtos do setor imobiliário e gera um risco maior do sistema financeiro ao liberar o crédito, mesmo no ambiente com taxas de juros menores que antes (mas ainda elevadas).
Vale destacar, ainda, que sintomas comportamentais do consumidor e do investidor de imóveis (rentistas) indicam que os preços estão altos demais e a rentabilidade está menor que períodos anteriores. Por isso, não há dúvida de que o aumento do preço do aluguel terá limites pelo baixo poder de compra dos salários e o endividamento das famílias brasileiras.
O problema das dívidas soberanas de países europeus causarão efeitos não desprezíveis no setor imobiliário pela parcial do “crédito”. A recente desaceleração da economia chinesa limitará o crescimento da economia brasileira e do setor imobiliário como derivada. Os problemas da economia americana perdurarão por longa data e aumentarão as chances de um efeito “double dip recession” entre 2013 e 2016.
O setor imobiliário brasileiro sofrerá ajustes, dado seu sufocamento pelos problemas supracitados. Indicadores de 2008-2012 mostram o boom imobiliário de oferta e demanda que resultou em “descompasso intertemporal” de consumo presente versus futuro. Mesmo com o déficit habitacional elevado no país, a “farra” vai acabar pela restrição orçamentária das famílias, pela escolha intertemporal de consumo e, sobretudo, pela produção a créditos mais do que elevados.
Luciano Luiz Manarin D’agostini é Economista, Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Paraná, onde integra o Grupo de Pesquisa “Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento/CNPQ”. É consultor no mercado financeiro, gestor de recursos e professor, além de co-autor do Livro “Política Monetária, Bancos Centrais e Metas de Inflação” (FGV, 2010) e autor do Livro “Econometria Temporal Multivariada” (Ed. Blucher, 2011).