Acontece, nesta quarta-feira, a reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que deve definir os rumos da política monetária nos EUA. A expectativa em torno do que será anunciado quanto à elevação das taxas básicas de juros reflete não só na economia americana, mas no Brasil e no mercado global como um todo, que é afetado diretamente pelas medidas. Embora antes o BC americano tenha mencionado “paciência” ao discutir a previsão da data de aumento de juros, há expectativa de que a taxa possa ser elevada em breve. O GLOBO conversou com o professor do Instituto de Economia da UFRJ, Luiz Carlos Prado para entender o que está em jogo com a decisão do Fed.
— São duas as principais questões em torno da reunião: se vai haver o aumento das taxas de juros em junho e o seu efeito nos países emergentes. O dólar no Brasil já está aumentando e nessas circunstâncias (de elevação das taxas) o cenário deve piorar ainda mais, com o movimento de saída mais rápida de capital podendo criar um cenário de crise. Há também aquelas empresas que se endividaram em dólar quando o dólar estava mais barato, e para elas o aumento dos juros é um risco — considera Prado.
Prado ainda observa que há uma certa preocupação de que a elevação da taxa básica de juros neste momento implique em um fenômeno semelhante ao de 1937, quando a economia americana acreditava já ter resolvido os problemas da crise de 1929, com o país se recuperando, e o aumento da taxa de juros culminou com a volta da depressão.
— Há uma preocupação de que isso (o aumento da taxa) possa interromper uma certa recuperação da economia que vem ocorrendo depois da crise de 2008. Os EUA querem sair da sua política de taxa de juros zero, mas só essa sinalização já fez com que o dólar subisse no mundo todo. Certamente eles estão levando cada uma dessas coisas em conta, mas os EUA são um país voltado mais para si mesmo, ainda que a moeda americana seja referência para o mundo inteiro. Fica a dúvida se eles levarão mais a política doméstica em conta ou serão um pouco mais cautelosos. Se a decisão for antecipar a elevação das taxas de juros, é uma notícia ruim para o Brasil que já não anda bem.
Em 2008, o Fed havia zerado os juros e adotou estímulos monetários como o Quantitative Easing (QE), que se baseava na compra de títulos que estavam nas mãos de investidores pela autoridade monetária, injetando dinheiro na economia. Conforme o país foi se recuperando, esses estímulos foram diminuindo. Agora, o Fed deve restabelecer os níveis da taxa básica de juros, o que irá influenciar no câmbio e no fluxo de capitais, a questão é saber a quanto e quando.
IMPACTO DO AUMENTO DOS JUROS
Caso o Fed declare a elevação das taxas nesta quarta, os EUA também podem acender um alerta e sofrer um impacto negativo no país, lembra o professor.
— Uma moeda americana mais valorizada faz o país perder a competitividade na exportação. Se por um lado, isso seria uma sinalização de que o pior da crise já passou, e a economia vem se recuperando, por outro, com o aumento da taxa, um dos efeitos é segurar o preço das ações e pisar um pouco no freio do crescimento. Tudo depende do quanto vai aumentar.
Já no caso das economias emergentes, o aumento da taxa de juros pode significar que as divisas antes aplicadas nesses países irão voltar para os EUA. Além disso, a deterioração dos preços das commodities em meio ao panorama de elevação dos juros piora o cenário:
— O preço das commodities continua baixo. Na medida que aumenta taxa, isso desvaloriza a moeda desses países. Assim, os países que têm uma taxa de inflação mais baixa, vão ter de elevar as taxas de juros. Isso desacelera a economia dos emergentes num momento em que ela já vinha desacelerada pelo preço das commodities. No Brasil, especificamente, temos uma crise interna num momento de situação externa desfavorável para nós, já que o que exportamos está com preço baixo. O crescimento dos EUA pressiona mais ainda o câmbio brasileiro e desvaloriza mais ainda o preço do real. O capital de curto prazo é o mais afetado, principalmente aquele que ganha no diferencial de taxa de juros. A desaceleração da economia é o que mais afeta.
Caso a decisão do Banco Central americano seja a de subir os juros em setembro, o cenário brasileiro se torna menos crítico, na opinião de Prado. Para ele, adiar o aumento da taxa significa que a economia brasileira poderá ter mais tempo de se adaptar a essa nova conjuntura:
— Teremos mais tempo para equacionar as questões políticas e pensar os próximos passos da política econômica brasileira — aposta.
Fonte: Jornal O Globo